No dia 29/NOV o Papa Francisco foi recebido pela cúpula budista de Myanmar, no Kaba Aye Center, um dos mais venerados templos
budistas `Theravada´, do Sudeste Asiático.
Em seu
discurso, o Papa agradeceu à referida Comissão pelos esforços na organização de
sua visita ali. Este comitê é formado por 47 monges budistas
nomeados pelo Ministério dos Assuntos Religiosos para um mandato de cinco anos,
com a renovação de um terço dos membros a cada três anos. Foi instituído, em
1980, para regular o Sangha, clero budista, em Mianmar, certificar o respeito
do Vinaya, regra conduzida pelos monges Theravada, e a exclusão de seu
envolvimento nos assuntos seculares.
“O nosso encontro é uma ocasião
importante para renovar e fortalecer os laços de amizade e respeito entre
budistas e católicos. É também uma oportunidade para
afirmar o nosso compromisso pela paz, o respeito pela dignidade humana e a
justiça para todo o homem e mulher. E não é só em Mianmar, mas em todo o
mundo, que as pessoas precisam deste
testemunho comum dos líderes religiosos. Com efeito, quando falamos numa só
voz afirmando o valor perene da justiça, da paz e da dignidade fundamental de
todo ser humano, oferecemos uma palavra de esperança. Ajudamos os budistas, os
católicos e todas as pessoas a lutarem por uma maior harmonia em suas
comunidades.”
Segundo o Papa, em toda fase, “a humanidade experimenta
injustiças, momentos de conflito e desigualdade entre as pessoas. No nosso
tempo, porém, estas dificuldades parecem ser particularmente graves. Embora a sociedade
tenha conseguido um grande progresso tecnológico e, em todo o mundo, as pessoas
estejam cada vez mais conscientes da sua humanidade e destino comuns, as feridas dos conflitos, da pobreza e da
opressão persistem e criam novas divisões. Nunca devemos nos resignar diante
desses desafios.”
O Papa manifestou a sua estima por todos aqueles que, em
Mianmar, vivem segundo as tradições religiosas do Budismo. “Através dos ensinamentos de Buda e do
testemunho zeloso de tantos monges e monjas, o povo desta terra foi formado nos
valores da paciência, tolerância e respeito pela vida, bem como numa
espiritualidade solícita e profundamente respeitadora do meio ambiente. Estes
valores são essenciais para um desenvolvimento integral da sociedade, começando
pela família para depois se estender à rede de relações que nos põem em
estreita conexão – relações essas arraigadas na cultura, na pertença étnica e
nacional, e, em última análise, na pertença à humanidade comum.
Numa verdadeira cultura do encontro, estes valores podem fortalecer as nossas
comunidades e ajudar o conjunto da sociedade a irradiar a tão necessária luz.”
“O grande desafio dos nossos dias é ajudar as pessoas a abrir-se ao transcendente; ser capazes de
olhar-se dentro em profundidade, conhecendo-se de tal modo a si mesmas que
sintam a sua interconexão com todas as pessoas; dar-se conta de que não podemos permanecer isolados uns dos
outros. Se devemos estar unidos, como é nosso propósito, ocorre superar todas as formas de incompreensão,
intolerância, preconceito e ódio.”
A esse propósito, o Papa citou as palavras de Buda: «Vence o rancor com o não-rancor,
vence o malvado com a bondade, vence o avarento com a generosidade, vence o
mentiroso com a verdade», e de São Francisco de Assis: «Senhor,
fazei de mim um instrumento de vossa paz. Onde houver ódio que eu leve o amor,
onde houver ofensa que eu leve o perdão, (...) onde houver trevas que eu leve a
luz, e onde houver tristeza que eu leve a alegria».
“Que esta Sabedoria continue inspirando todos os esforços para
promover a paciência, a compreensão e curar as feridas dos conflitos que, ao longo dos anos, dividiram pessoas de diferentes culturas, etnias
e convicções religiosas. Tais esforços
não são uma prerrogativa apenas de líderes religiosos, nem são de competência
exclusiva do Estado, mas de toda a sociedade. Todos aqueles que estão presentes na comunidade devem partilhar o
trabalho de superar o conflito e a injustiça.”
Segundo Francisco, “é responsabilidade particular dos líderes
civis e religiosos garantir que cada voz seja ouvida, de tal modo que os
desafios e as necessidades deste momento possam ser claramente compreendidos e
confrontados num espírito de imparcialidade e solidariedade recíproca”.
A este propósito, o Papa congratulou-se com o trabalho que a Panglong Peace Conference que
está fazendo, “e reza por aqueles que guiam este esforço para que possam
promover uma participação cada vez maior de todos os que vivem no Mianmar. Isto
contribuirá certamente para o compromisso de promover a paz, a segurança e uma
prosperidade que seja inclusiva de todos”.
Segundo o Pontífice, para
que estes esforços produzam frutos duradouros, tornar-se necessária uma maior
colaboração entre os líderes religiosos. A este respeito, o Papa manifestou a
disponibilidade da Igreja Católica.
“As oportunidades de encontro e diálogo entre os líderes
religiosos são um elemento importante na promoção da justiça e da paz em
Mianmar. Bem sei que,
em abril passado, a Conferência dos Bispos Católicos organizou um encontro de
dois dias sobre a paz, em que participaram os chefes de diferentes comunidades
religiosas, juntamente com embaixadores e representantes de agências
não-governamentais. Devendo aprofundar o nosso conhecimento mútuo e afirmar a
nossa interligação e destino comum, são essenciais tais encontros. A verdadeira justiça e a paz duradoura só podem ser alcançadas,
quando forem garantidas a todos.”
“Queridos amigos, possam budistas e católicos caminharem juntos
por esta senda de cura e trabalhar lado a lado pelo bem de cada habitante desta
terra. Nas Escrituras
cristãs, o Apóstolo Paulo desafia os seus ouvintes a alegrar-se com os que
estão alegres, a chorar com os que choram, carregando humildemente os pesos uns
dos outros. Em nome dos meus irmãos e irmãs católicos, expresso a nossa disponibilidade para continuar caminhando com vocês
e a espalhar sementes de paz e de cura, de compaixão e de esperança nesta
terra.”
Deixo aqui meu abraço amigo ao monge Sato, do Templo
budista Shin de Brasília.
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