O estilo do Papa Francisco segundo o Pe. A. Spadaro SJ...


Segundo J. M. Vidal o Pe. Spadaro SJ não gosta de ser chamado de “assessor, ou de “homem de confiança” do Papa. Mas, o que ocorrre na verdade é que Antonio Spadaro sj, diretor da revista Civiltá Cattolica, o acompanha em todas as suas viagens e tem, de forma muito clara, as chaves intelectuais do pontificado de Francisco. E isto ele demonstrou muito bem no Encontro de jornalistas “Pró Francisco", organizado, em Madrid, pelo site Religion Digital e pelos Mensajeros de la Paz. "O Papa não necessita de defensores, não é um Papa ideológico nem pacifista", assegurou em sua conferência na Igreja de Santo Antão. 

O jesuíta italiano, sempre brilhante em suas ideias e na maneira que tem de expô-las, falou em italiano, sendo traduzido, com competência, pelo salesiano Javier Valiente. Desde o começo da sua fala ele quis deixar bem claro que Francisco "não necessita defensores" e muito menos sente gosto por trincheiras e pelas frentes de luta. "O Papa se defende sozinho, ele diz, ao mesmo tempo em que pede aos jornalistas para "que não desfigurem a figura do Papa" e muito menos "projetem em Francisco as suas próprias ideias".

Isto porque o verdadeiro problema são os que propagam 'fake news' sobre Francisco ou "os que lhe atribuem suas próprias ideias, e não o que disse o Papa".

É evidente que o Papa tem críticos e que encontra resistências tanto dentro como fora da Igreja. Mas, apesar delas, "está sereno e não se sente incomodado com as pessoas que se colocam contra ele". Isto porque, entre outras coisas, as críticas são “indicadores de que as suas reformas estão funcionando".

Francisco sabe perfeitamente dessas coisas e as assume como uma característica do seu pontificado, pois a história avança graças à dialética tese-antítese, que termina superada pela síntese. Sem dúvida, preocupam mais ao Papa "que as coisas estejam demasiadamente tranquilas". Sente entusiasmo pelo movimento de ideias e que se agitem as águas. Então, quando tudo está muito quieto, ele mesmo faz provocações, como aconteceu no Sínodo da Família. 

"O Papa não tem medo e ele não dá demasiada importância aos ruídos, vozes e rumores, que se alimentam com a excessiva atenção que recebem". Esses críticos são poucos e nem são demasiado relevantes, suas críticas contra o Papa, "vozes de sacristia, cuja importância alimentamos, quando as respondemos".

Além do mais, se trata de "uma oposição sem profundidade, polêmica e sem respeito, porque questiona o primado petrino, põe em discussão o fato de que o Papa seja Papa". E isto se converte em uma oposição "que não sabe falar: chia, fazem ruído e nada mais".

Mesmo assim, Spadaro reconhece importância neste fato. “há movimentos de oposição", mas ele não considera este fenômeno como algo negativo, pelo contrário. "É positivo que a oposição se manifeste, porque Francisco deseja que, para o bem da Igreja, haja debate".

Algumas pessoas na Igreja se opõem ao Papa por causa das reformas que ele está implementando. Certa vez, Spadaro perguntou diretamente ao Papa:

-Quer reformar a Igreja?
-Não. Só quero colocar a Cristo cada vez mais no centro da Igreja. Será Ele quem fará as reformas, respondeu Francisco.

O Papa não é, pois, “um Dom Quixote, que se apresenta como o grande reformador da Igreja". Seu papado é “um pontificado de discernimento: busca onde está o Senhor e o que Ele quer para a sua Igreja".

Este princípio de discernimento genérico se plasma em algo mais concreto. "O papado de Francisco é um papado do Vaticano II", porque, da mesma forma que o Concílio, "Francisco sente que o diálogo é imprescindível na história do mundo e da Igreja".

Seguindo com as suas “provocações", o jesuíta italiano assegura que "Francisco não é um Papa simpático, que está sempre sorrindo, mas sim um Papa dramático, que carrega nos ombros as feridas da história". De fato, "seu sorriso é bálsamo ou azeite sobre as feridas abertas", porque, para ele, "a Igreja é um hospital de campanha".

Outro elemento fundamental do pontificado de Francisco, conforme Spadaro, é o "seu pensamento aberto e incompleto". Ou seja, "o Papa não tem um plano para a Igreja", e isto porque "não é um Papa ideológico".

Seu caminhar à frente da Igreja é um processo, que "se baseia na dinâmica do acerto e erro” e isto faz com que "se desestabilizem aqueles que estão em busca de certezas", porque "o discernimento não se baseia nas certezas humanas, mas em possibilitar a realização da vontade de Deus na história".

Para exemplificar esta dinâmica, o jesuíta se referiu às viagens papais. No seu modo de ver, "são viagens que se vão fazendo durante as próprias viagens", tendo sempre em conta que "o Papa gosta de duas coisas: tocar as feridas e correr riscos".

Por causa disto, em suas viagens, ele não diz às autoridades o que têm que fazer. Opta por "abrir os olhos e ouvidos, tratando de entender o que é bom para a humanidade", conclui Spadaro, sendo muito aplaudido. O jesuíta demonstra, mais uma vez, que é um autêntico ‘guru’ da informação vaticana. Faz isto com humildade, o que o torna ainda maior.
(Tradutor: F. Cyrino)


E você o que sentiu diante do que leu? 


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