“O que estais buscando?” (Jo 1,38)
Um dos temas importantes do quarto
evangelho é o da busca-encontro
de Jesus. A primeira palavra que o
autor do evangelho põe na boca de Jesus é uma per-gunta: “Que buscais?”
No
ser humano tudo começa com a busca, pois é ela que põe em marcha todo o
processo existencial. No princípio ele
busca “estar bem”, “sentir-se melhor”... E busca “fora”, em objetos,
pessoas, títulos, ocupações... o que poderiam satisfazer sua sensação de
carência. Mais cedo ou mais tarde, a
vida lhe mostrará que nada do que está fora é capaz de “plenificá-lo”,
fazendo-o suspeitar que é preciso dirigir o olhar para o seu interior.
É a busca que dá sentido e calor à
própria vida. Quem não busca, vive um
processo continuo de atrofia de sua própria humanidade.
Viver
é buscar. A busca
marca a caminhada humana e define os rumos da vida. Vive-se em permanente busca.
“Diga-me o que buscas e
dir-te-ei quem és”.
O
ser humano se sente impulsionado a buscar para conseguir acalmar sua
insatisfação existencial. Mas a busca não guarda relação só com a carência, senão que é, ao mesmo tempo, expressão do desejo (aspiração).
Diferença do que nasce da carência e o
que nasce do desejo? No primeiro, o
ser humano busca apegar-se e
apropriar-se de algo que percebe como “bom” para si; no segundo, pelo contrário, é o impulso a viver e a expressar a própria identidade profunda.
No
primeiro caso, falamos do ego e seus movimentos egocentrados; no segundo, de
nossa verdadeira identidade, enquanto Plenitude que se transborda.
O coração de cada um foi feito para
encontrar a razão mais profunda do seu viver. Toda pessoa precisa assumir sua condição de navegadora do infinito.
Somos eternos buscadores e garimpeiros do novo.
A busca
deve permear o coração do(a) seguidor(a) de Jesus.
A vida se torna mais vida na medida que
se vive para dar razão a essa busca.
Estar em busca é sair de nosso ser atrofiado pelas preocupações individuais
para mover-nos num horizonte maior de
pré-ocupação pelo Reino.
Enquanto
estejamos identificados com o eu superficial (ego), nos perceberemos como seres
carentes e nos sentiremos compelidos a uma busca ansiosa daquilo que
supostamente poderia completar-nos. Quando chegarmos ao reconhecimento de nossa
verdadeira identidade, a busca deixa de
ser estressante para ser repousante.
Cairemos,
então, na conta de que a Plenitude não é “algo” que devemos alcançar, mas é o
que já somos e sempre fomos. Quando a pergunta de Jesus – “que buscais?” ressoa
em nós, o que na realidade andamos buscando é o nosso “eu verdadeiro”, o “eu profundo”, a “identidade original”.
Com outras palavras: o que buscamos não é diferente do que já somos.
Podemos
voltar ao texto do evangelho de hoje: ao
“ver Jesus”, estamos vendo quem somos, pois o encontro com Ele desvela
nosso “eu original”.
Jesus
não chama para seguir uma religião, uma doutrina, nem faz proselitismo... Ele
desencadeia um movimento e o seu modo de viver a todos seduz para
identificar-se com Ele e com sua proposta de vida. É o convite a um seguimento
(“vinde e vede”),. Para isso requer-se uma resposta sem reservas.
João evangelista quer deixar claro que
há maneiras de seguir a Jesus que não são as mais adequadas. A pergunta – “onde moras?”- busca uma
identificação com a atitude vital d’Ele.
Poderíamos
ampliar a pergunta dos discípulos de João Batista: “Mestre, onde vives, ou
seja, onde estão tuas raízes; o que é que te dá Vida; diga-nos onde está a
Fonte, para que nós possamos permanecer, enraizados, sempre bebendo dela?”
Os
dois primeiros discípulos não lhe perguntam por sua doutrina, por sua religião,
mas por sua vida. E Jesus não responde com um discurso, mas com um convite à
experiência de vida: “Vinde e vêde”.
“...e permaneceram com Ele naquele dia”: é a mesma expressão que João utiliza para dizer que o
Pai permanece no Filho e o Filho permanece no Pai; ou que Jesus e sua Palavra
permanecem em nós e nós somos chamados a permanecer n’Ele.
Permanecer enraizados somente na pessoa de
Jesus e no sonho do Reino como o
melhor legado que podemos oferecer aos nossos contemporâneos, sacudidos por
tormentas que os afundam sem poderem vislumbrar um novo horizonte e um novo
sentido para suas vidas.
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