Voltaram, glorificando e
louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido... (Lc 2,20)
A celebração do “Ano novo”, prática em todas as culturas e religiões, responde ao
desejo de “começar de novo”. Desde
que o ser humano surgiu da terra e sobre a terra, o mundo ganhou um “novo
início”. “O ser humano é criado e
é criativo”, e é o dom de recomeçar
que nos caracteriza como humanos.
Habita em nosso interior uma nostalgia
de alguma coisa mais original, de um novo início e da tentativa de outros caminhos.
Trata-se de uma aspiração de algo mais humilde e simples, que nasce do “húmus”, da terra que somos. É o desejo de sermos nós mesmos
simplesmente, sinceramente, prazerosamente.
É
a necessidade de viver recomeçando, sempre.
É inevitável que na existência humana se
façam presentes a dor, o cansaço, a frustração, a repetição mecânica, que
ameaçam afogar as melhores expectativas. Frente a essa constatação,
compreende-se a voz que brota das nossas entranhas e diz: “comecemos de novo”. A
celebração do “ano novo”, neste sentido, significa a oferta de uma nova
oportunidade à vida, para que ela tenha um novo sentido.
Não
caminhamos empurrados pelas costas, nem nossa vida é obra da inércia. Fomos
feitos para o “mais”.
Ver a novidade em uma simples
mudança de datas do calendário não passa de uma mera convenção. O 01 de janeiro não é mais “novo” que o 31
de dezembro. E, depois do rito de “passagem de ano”, tudo continuará sendo
como era ontem, ou inclusive pior, porque, a ressaca da celebração será
acompanhada pela frustração de comprovar que nada mudou.
É óbvio que a novidade não é “algo” que
possamos encontrar “fora” para ser incorporada à nossa existência cotidiana. O
máximo que podemos encontrar nesse nível são aparências de novidade que,
satisfazendo por um momento nossa curiosidade, rapidamente nos farão voltar ao
ritmo da rotina.
O “novo” está dentro de nós. Estamos no
tempo para crescer na consciência de nosso verdadeiro ser e descobrir que estamos já na eternidade,
que nosso verdadeiro ser não está no “kronos”
mas no “kairós” (tempo de plenitude e
de sentido). Nosso ser é constituído pelo divino que há em nós, e isso é sempre
novo. Somos já a plenitude e estamos no
eterno.
Nesse sentido, novidade é sinônimo de viçoso, abertura, presença, vida; a vida
sempre é nova, e vai acompanhada de atitudes e sentimentos de surpresa,
admiração, louvor, gratidão, comunhão e plenitude.
E
todos os que ouviram os pastores ficaram maravilhados com aquilo que contavam (Lc 2,18).
Seria um crime transformar a vida num
velódromo, dando voltas sempre em torno ao mesmo circuito de 365 dias, sem
avançar nada.
Vida expansiva, projetada para
todas as direções e sintonizada com as surpresas, grandes e pequenas, que a
plenificam e lhe dão um sentido de eternidade. É a isso que aspiramos.
Este
ano será novo se aprendermos a crer na vida de maneira nova e mais confiada, se encontrarmos
gestos novos e mais amáveis para
conviver com os outros, se despertarmos em nosso coração maior compaixão para os que sofrem.
Viver cada momento como se fosse o último;
pleno, sagrado, eterno.
O cristão, como os pastores de Belém,
conserva límpido os seus olhos
interiores para perceber a maravilha que está sendo germinada.
Movidos por um olhar novo, acolhemos a surpresa de Deus e a surpresa
dos outros que nos convidam ao encantamento.
É o “novo”
despojado de ornamentos, poder e riquezas. Na simplicidade, tudo renasce e
transparece Deus.
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