A hora dos leigos. Foi o que pensou o Concílio Vaticano II e,
em 2016, o Papa Francisco resgatou esta ideia.
Mas, de que leigos exatamente se fala? Não de `leigos clericalistas´, obsessivos e fundamentalistas, que
caem num moralismo radical, e na obsessão da doutrina. O
Concílio trouxe ao `leigo autonomia e corresponsabilidade na missão´,
podendo este agir e atuar de um modo próprio.
Neste Ano do Laicato, lembremos o Documento 105 da CNBB, que faz
dos leigos `sujeitos´ da Igreja e do
Mundo. E isso, sem separar essas realidades (Igreja e Mundo), entendendo o
compromisso da Igreja no mundo, não como um confronto, mas como um diálogo, onde ela é mestra e pode ensinar, mas também pode
aprender. Não se pode absolutizar nenhum
modelo, pois como Igreja somos sinal e testemunhas de algo maior, que
transcende e aponta para o absoluto da existência e da história.
Ser sujeito eclesial, hoje, significa: 1. Ser
autêntico e coerente com a fé que professamos (Doc. Aparecida); 2. Testemunhar
com a vida em todas as realidades, buscando a abertura e a mansidão, o
desprendimento e a misericórdia, a alegria e o amor; 3. Não é ser combativo, mas também não ter medo dos conflitos que
fazem o alvorecer de novas primaveras; 4.
Ser
testemunha do encontro vivo com o Ressuscitado; 5. Ser mistagogo, promotor de comunhão, atento ao mistério de Deus
sempre maior. É se coloca ao lado dos
outros, principalmente dos pobres e perseguidos.
Uma Igreja em saída; sair das sacristias e
das catedrais e viver no mundo,
aceitando a fraqueza da história e os limites da missão, mas sabendo que o
Reino cresce pela força do Espírito Santo, e não pela locução de um ministro ou
de quem quer que seja.
O Reino não é uma instituição de pedras ou
de doutrinas, mas um espaço de amor, justiça e paz, onde
todos podem viver e se manifestar. Juntamente com o Evangelho, o Concílio
proclama a bem-aventurança dos pobres e de uma igreja de serviço, disposta a
resgatar a vida dos dramas humanos. Isso não é socialismo ou comunismo, isso
não é ideologia, mas é a utopia que se
deve buscar a partir da experiência que fazemos na fé, alimentada na
esperança e fortalecida no amor.
Esta intenção do Concílio foi
recepcionada na América Latina com uma nova linguagem, adaptada à realidade e
garantindo a essência. Uma Igreja
protagonista, profética e sensível ao Continente, marcado por uma
colonização massacrante, dominação estrangeira, ditaduras militares e exploração
humana. Nesta Igreja os leigos foram chamados ao protagonismo e receberam de
seus pastores o apoio para empreender um
jeito novo, e um novo canto mais festeiro, e rico na fé que existe e insiste em
se manter acesa, mesmo diante de tamanha pobreza e opressão. A Igreja
torna-se una na diversidade e a variedade de rostos e carismas torna a sua
identidade ainda mais bela. É uma Igreja
poliédrica, católica e ecumênica.
Onde há divisão não pode haver o Espírito.
Onde há certezas não há espaço para a fé. Onde há ódio, não se pode viver o
amor.
Uma estrutura clericalista e farisaica olha
mais a lei do que à pessoa. Falta o
frescor do Evangelho. É impossível sustentar a fé só de doutrina e não se vive
um novo modo de proceder, atento ao que gritam os homens e as mulheres e a própria
terra. Faz-se necessário voltar-se a
Jesus, ao filho de Maria e José, ao amigo de Pedro e Tiago, aquele que nos chama
pelo nome. Ele estava mais atento às pessoas do que a Lei, a Deus mais do que
ao Templo vivendo o amor do Pai no dom de si.
É a hora dos leigos? Sim, é hora e agora. É a hora de um povo que fala, que reza,
que luta, trabalha e professa. É o povo de Deus, transformando esta terra.
Que o olhar atento a Jesus de Nazaré
nos mostre o caminho e que a comunhão nos fortaleça, sempre.
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