Candidatos ao Noviciado dos jesuítas/2018...
Estava em Itaici, quando um jovem de 22 anos me disse que gostaria de entrar na vida religiosa. Pensei: Deus trabalha sem parar, a pesar de nossas limitações e fragilidades.
Sabemos que os MCS não valorizam nosso celibato. Parece, até, como se a nossa “vida afetivo-sexual” ficasse à vista de todos. São muitos os que se posicionam contra, argumentando teses já sabidas: imposição desumana, atentado aos direitos pessoais, hipocrisia generalizada, etc. E no em tanto, no meio desse mar agitado, Deus continua chamando pessoas para a vida consagrada e ministerial.
A primeira reação diante dos “casos escandalosos” que surgem nos MCS não deve ser o do pânico ou da censura, mas o da sensatez. Não adianta esconder notícias que se filtram por toda parte nem podemos colocar os jovens vocacionados numa “estufa”, protegendo-os da opinião pública. A liberdade de expressão é um valor, e a impossibilidade de controle faz inviável falsos recursos protetores.
Também não adianta “matar o mensageiro”, desautorizando-o com revelações ou insinuações sobre sua má conduta ou “motivos” inconscientes inconfessos. Não podemos usar dos recursos negativos dos que não nos valorizam.
A melhor atitude a tomar é a de conhecer a realidade e analisá-la. Reconhecer o que existe de verdade (“não queiramos tapar o sol com a peneira...”), e não generalizar os problemas. O realismo é a melhor cura contra o escândalo.
Quem entra no clero carga com os pecados de todos os seus colegas... Sem dramas! Por mais sadio, maduro, honrado ou santo que possamos ser, carregamos com a boa ou má fama das nossas instituições.
Quem não quiser carregar com os pecados coletivos parece não estar maduro psicológica e espiritualmente para entrar na vida consagrada ou no ministério presbiteral.
A história, com seus claros e escuros, leva-nos a viver hoje com maior coerência. Como diz o provérbio: “Hay que ser honrados y también parecerlo…”
Alguns dizem que os jovens de hoje são personalidades frágeis, pouco desenvolvidas e “inseguros ontologicamente”. Apoiamo-nos excessivamente na instituição e nos refugiamos facilmente no anonimato da corporação. Confundimos frequentemente obediência com submissão, e fidelidade com indiferença. Isso não é bom.
Sabemos que “os jovens participam da fragilidade psicológica de seus contemporâneos”, e que o “pensamento líquido” busca segurança nas instituições e funções que exercemos. Mas, queiramos ou não somos obrigados a nos expor, “spectaculum facti sumus” (1 Cor 4, 9). Cada um responde por conta própria, e como pode. Oxalá sejamos sempre positivos!
A confiança que temos (ou não temos!) provem não do ofício que desempenhamos, mas das qualidades pessoais que temos. “Não são as coisas que me fazem importante; sou eu que faço importantes as coisas que eu faço!”
Daqui a importância da maturidade humana e afetiva. Sem ela, ninguém deveria assumir um cargo de comando, pois se não há “sujeito” humano adequado, não há carisma vocacional. Ou cultivamos a autenticidade positiva ou caímos no “funcionarismo público da Igreja”, na busca de compensações, no jogo político da inveja e da competição, no carreirismo e na hipocrisia. Não somos meros “repetidores” do que apreendemos ou do que outros disseram, mas hoje se nos exige que sejamos capazes de afirmar e confirmar os outros a partir de nossa própria experiência, sem cair na autorreferencialidade.
Não podemos depender da última teoria ou modismo. As personalidades fortes configuram-se a partir de convicções profundas que criam motivações e atitudes humanas e adequadas. Por isso temos que oferecer pensamentos globais, horizontes amplos e sentido para a vida.
Só quem encontra Deus também no celibato é chamado para a vida religiosa. O ministérios ordenados (diácono, presbítero e bispo) seguem outros critérios de disponibilidade e serviço descartando tudo o que cheira a “dignidade, autoridade, endeusamento e poder”.
O presbítero não é um agente de serviços religiosos nem o funcionário público de uma instituição! O que hoje se considera mais indicativo e constitutivo do ministério é a “caridade pastoral”, conforme Jesus Cristo, o Bom Pastor. Se alguns abandonaram a igreja é porque esta os abandonou primeiro, não sabendo acompanhá-los nas suas situações existenciais. Como Jesus, queremos acolher fraternalmente os pequenos, os fracos e os necessitados.
Desse modo, não cairemos numa `empresa´ prestadora de serviços, no ativismo ou no vazio religioso e espiritual. Entender o ministério como “serviço” significa trabalhar com serenidade, paz interior e generosidade. Que eu saiba, o sucesso não é um dos nomes de Deus! Pelo batismo, todos somos servidores uns dos outros.
Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
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