CHAMADOS PELO NOME...
“João é o seu nome...”(Lc 1, 63)
A natividade de João Batista assemelha-se às festas da infância de Jesus. O espírito da festa é tipicamente de Lucas, ou seja, ela é inspirada e sustentada pela manifestação da graça e da bondade de Deus.
O nascimento de João se dá num clima de intensa alegria. Isabel se alegra e com ela os vizinhos. É a alegria de haver nascido um menino de uma mãe que era estéril e de idade avançada. Esta alegria do coração se manifesta no louvor: o Senhor tem favorecido com grande misericórdia. O reconhecimento agradecido dos grandes feitos do Senhor proporciona alegria.
A alegria é um sentimento central na experiência cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria: sentir que um grande mistério, o mistério do amor de Deus, nos visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária. Alegria que brota do interior e é um dom do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria...”(Gl 5, 22). Este dom nos faz sentir como filhos(as) de Deus, capazes de viver e saborear sua bondade e misericórdia.
O nascimento de João Batista é cheio de mistério, porque ali todos descobrem o agir de Deus. É o mistério da vida. É o mistério de Deus que dá a vida como presente; é o mistério de um ventre seco que se torna fértil; o mistério do novo em um ventre que carrega a “novidade”.
Dois anciãos, Isabel e Zacarias: uma grávida, o outro mudo. No entanto, uma vida que cresce. “Os vizinhos e parentes ouviram dizer...” Não tinham percebido até o nascimento? Alguém afirmou que, de vergonha, Isabel se retirou a um sítio vizinho para esconder o mistério de Deus em seu ventre.
Pode-se ocultar a gravidez, mas não se pode ocultar o filho. Filho esperado no silêncio, e que faz amadurecer a fé. Para os vizinhos e parentes, o filho da surpresa. E todos o veem “como o Senhor tinha sido misericordioso para com Isabel, e alegraram-se com ela”. E todos se perguntavam:“O que virá a ser este menino?”
A natividade de João é uma visibilização da misericórdia de Deus e da missão que Deus tinha para ele. Não seria sacerdote como o pai; seria um mensageiro que prepara caminhos.
João Batista é a primeira ruptura com o passado:
Não se chamará Zacarias, como o pai; chamar-se-á João porque anunciará o novo;
Não será o “homem do templo e do culto”, mas o “homem do deserto e do anúncio”.
Não será o “homem que recorda o passado”; mas o homem que anuncia o novo.
Não será o “homem que anuncia a esperança”; mas que a esperança já é realidade”.
Não será o “homem da lei”; mas aquele que abre caminhos onde tudo será desbloqueado.
Por isso, o tema central do Evangelho deste domingo é este: “João é seu nome”. Esta frase é uma mensagem da gratuidade e bondade de Deus. João é um nome especial. Nele são guardadas muitas e importantes lembranças. De fato, “Yohanan” significa Deus se mostrou misericordioso. Na Bíblia, o nome é algo dinâmico, um programa de vida, implica numa missão que deve ser realizada pela pessoa (Gn 17,5; Jo 1,42). Nome novo, aventura que começa, história a ser construída, e ponto de partida e de chegada com Deus.
João é um dom gratuito de Deus, e pertence plenamente a Deus. Nasce um tempo novo; o Espírito vai por caminhos diferentes, nem sempre reconhecíveis. E Deus toma a iniciativa e chama pelo nome. O “nome” encerra a verdade da pessoa e sua relação direta com Deus.
Todo nascimento é um mistério. Por isso, cada um de nós é fruto do mistério da misericórdia de Deus. E todos somos o mistério do anúncio do novo. Não somos repetição de ninguém. Somos únicos. E somos preparadores dos caminhos de Deus. Nosso nome, escrito na palma da mão de Deus, é uma missão a realizar.
É preciso crescer na consciência de que o próprio nome tem uma história e manifesta uma identidade única, irrepetível, original. O nome próprio está relacionado com nossa realidade pessoal, responsável, criativa e livre. Essa identidade vai sendo elaborada ao longo de nossa história pessoal, com os avanços e recuos, vitórias e fracassos, as alegrias e os sofrimentos... que vão pontilhando nossa existência e formando esse ser único que somos nós.
Na linguagem bíblica, “nome” significa aquilo que torna a pessoa única. O nome é um símbolo que exprime a individualidade de cada um; é a própria pessoa, e interessar-se pelo nomeé o primeiro passo para um encontro pessoal. Os orientais não dizem o seu nome a qualquer um. Só aos amigos, aos seus mais íntimos. Por isso, conhecer o nome de alguém, é conhecer a pessoa toda; saber o nome é prova de amizade. O nome é referência reveladora da verdade da pessoa. É a porta de entrada de cada história particular.
Deus sabe o nosso nome: “Eu te gravei na palma de minha mão”(Is. 49,16). Deus nunca pode olhar Sua mão sem ver o nosso nome. E o nosso nome quer dizer: “EU mesmo”. Receber um nome significa tomar um lugar na história, e uma missão a cumprir.
Cada um de nós tem um nome próprio, não comum. Ele expressa o nosso ser, indica uma missão a realizar, uma vocação a viver, um apelo a responder. Somos seres chamados. É isso que significa ter um nome. Ser fiel ao nome é ser fiel à própria vocação.
A dinâmica da relação com Deus passa através da nossa história, das nossas alegrias, dos nossos sofrimentos, e das nossas perguntas: “Quem sou eu?”, “O que quereis de mim?”.
E é preciso ter coragem de perguntar: “Quem me chama?” e “a quê me chama?”; pedir ajuda para conseguir entender, reconhecer, descobrir o próprio nome. Meu nome se torna a minha própria vida, o meu patrimônio existencial, a minha realidade.
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