“Tu és Pedro, e sobre esta rocha edificarei a minha igreja...”(Mt 16,18)
Há indicações históricas de que já no séc. IV se celebrava uma festa em honra de S. Pedro e S. Paulo. Quais as razões que levaram aqueles primeiros cristãos a unir em uma mesma celebração litúrgica duas figuras humanas tão diferentes? O mais provável é porque os dois foram martirizados em Roma durante a perseguição de Nero ou porque suas sepulturas estivessem juntas durante muito tempo. É também provável que muito cedo se descobriu a complementariedade desses dois homens. Personalidades tão diferentes as destes seguidores autênticos de Jesus.
Pedro e Paulo foram considerados como as colunas da Igreja. Paulo foi o verdadeiro construtor da Igreja, enquanto Pedro foi sua base, embora saibamos pouco dele. Pelo contrário, Paulo é a pessoa melhor documentada. É o único apóstolo do qual podemos fazer uma biografia quase completa.
O Evangelho da festa de hoje nos ajuda a reler nossa vida. Afirma-se nossa identidade: temos um nome, que carrega algo sólido, resistente, e que não se desfaz com as adversidades existenciais. A identidade é dada por algo consistente no seu interior:“Tu és Pedro e sobre esta rocha edificarei minha Igreja..."Mas a Pedra não é Pedro, mas o próprio Jesus. Somente Ele oferece toda a segurança. Pedro alenta nossa fé, e confirma os irmãos; mas a fé em Jesus Cristo.
O fundamento da Igreja é Jesus Cristo. O Papa, os bispos, o clero tem sua missão e sua importância, mas a pedra angular é o Senhor.
Mateus, no evangelho deste domingo, nos situa diante de um jogo de palavras entre “petros” (pedregulho, pedra sem estabilidade e que se esfarela) e “petra” (rocha firme, consistente). Simão é, por si mesmo, um “petros”, mas confessando Jesus como o Cristo, alargou sua interioridade e o mesmo Jesus o fez “petra” (Rocha – fundamento). Pedro chega ao grau máximo de identificação com Jesus. Pedro é proclamado `bem-aventurado´ porque na sua fragilidade (petros) Jesus se faz presença solidificada (petra).
A Igreja é a comunidade dos pecadores perdoados, não a comunidade dos perfeitos.
Pedro e Paulo nos ensinam que não é fácil aceitar a mensagem de Jesus e seguí-Lo. Não foi fácil deixar a segurança da Lei judaica e aceitar Jesus como Messias. O encontro com Jesus desbaratou essa segurança e os fez entrar na dinâmica da fé com o Mestre galileu. Pedro, com toda espontaneidade, não perde ocasião de manifestar sua oposição àquilo que o Mestre dizia. E Paulo, defendendo o judaísmo, se converteu em perseguidor dos cristãos, “os seguidores do Caminho”.
As dificuldades que Pedro e Paulo tiveram para seguir Jesus pode ser de muita ajuda para nós hoje. Pedro, antes da experiência pascal, seguia um Jesus que se encaixava em seus ideais e interesses de bom judeu. Paulo, antes da queda a caminho de Damasco, servia ao Deus do AT que estava a anos-luz do Deus de Jesus.
Não serve para nada seguir a Jesus sem conhecê-Lo a fundo. Só depois de termos superado os nossos pré-juízos, estaremos preparados para despertar nos outros o desejo de viver o mesmo seguimento. Passar pelo doloroso processo de maturação na fé. Para eles, a dificuldade se agravou porque os dois tiveram que dar o salto de uma religião centrada na Lei para uma experiência interior de seguimento na fé. Da aprendizagem de uma doutrina à vivência do seguimento de uma Pessoa. Sem essa passagem a fé se converte em pura teoria, que torna estéril a vida e não desperta sedução nos outros. Talvez esteja aqui a causa de muitos fracassos no caminho da evangelização. Estamos mais preocupados em “passar” uma doutrina, uma moral, uma religião... e não deixamos transparecer em nossas vidas que somos seguidores d’Aquele que é Rocha em nosso interior.
Na origem do discipulado e da igreja está sempre presente a consciência de termos sido chamados. A vontade e a decisão de cada um são imprescindíveis, mas são despertadas pela chamado e testemunho de outros, pelo chamado de Jesus e, em último termo, pelo chamado do próprio Deus.
Isso é o que significa o termo “igreja” (ekklesia): “comunidade dos chamados”.
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