Nos aproximamos de Deus quando nos integramos...
Para os homens não é fácil tocar o tema da sexualidade e, menos ainda, rezá-la. Nossa sexualidade virou sinônimo de pênis ereto, instrumento do macho caçador. Desde a puberdade competíamos para saber quem tinha o membro maior e, facilmente afogávamos no esquecimento o mundo dos sentimentos, para não cair na suspeita de sermos homossexuais. Associamos a sexualidade com a força, a potência e a intensidade… e gastamos muitas energias para dominar tudo isso. Mais ainda, se somos pessoas que acreditam, facilmente sofremos Deus como um inimigo da sexualidade humana, alguém mais poderoso e do qual devemos manter-nos afastados ou morrer submetidos a Ele.
Vejamos o tema da sexualidade masculina contemplando a cura de um homem,vendo Jesus recompondo as energias sexuais dele (Mc 5, 1-20).
No relato evangélico encontramosum homem desestruturado sexualmente(“impuro”), e impelido por uma força negativa, de morte (morava nos sepulcros de um cemitério). Este detalhe é mencionado até três vezes e é significativo. De esse lugar excludente provinha a força que o habitava (arrebentava as correntes e quebrava as algemas...),força que o atormentava e feria. A sexualidade é uma grande força para a Vida, mas muitos a vivem de maneira trágica, impossível de sujeitar, e que bloqueia a plenitude do que somos e estamos chamados a viver. Essa desestruturação coloca essa pessoa à margem, fora da vida da cidade.
Gerasa era, certamente, uma região de pagãos. Provavelmente também colocamos nossa sexualidade desse maneira, à margem e em terra de pagãos, e não a conversamos sobre ela com ninguém e muito menos com Deus. Facilmente cremos que Deus e a sexualidade são duas entidades irreconciliáveis.O texto de Lucas acrescenta que esse homem, além de dar gritos e se ferir com pedras, andava nu.
Na nossa vida podem também acontecer autoagressões que ferem a alma e atormentam por longo tempo. Na dimensão sexual há culpas guardadas, recriminações e fixações que precisam ser curadas.Na área da sexualidade existem zonas que precisam ser ressuscitadas, correntes e algemas que precisam ser arrancadas. Essas culpas sexuais são como vozes que gritam e atormentam a existência de muitas pessoas. Parecem ser até uma “legião”, tal o poder e transtorno que ocasionam no nosso mundo interior e exterior. Forças poderosas e desordenadas que precisam ser pacificadas! Forças que, ao mesmo tempo, sentem-se ameaçadas pela pessoa e proposta de Jesus.
Jesus quer pessoas afetiva e sexualmente integradas.A cura desse homem “impuro” é paradigmática. Jesus não se assusta com a vivência desordenada deste homem e deixa que ele se aproxime e se prostre aos seus pés.Para integrar nossa afetividade e sexualidade precisamos entrar em contato com ela e colocá-la aos pés de Jesus. Jesus entra em diálogo com suavidade e firmeza, até que logra conhecer o nome daquela força desordenada. Dialogar, escutar a própria sexualidade é descobrir suas necessidades, aspirações e desejos.
E os “porcos” afogados no mar? É o momento de “recolocação" de novos valores e "solta” dos registros mais velhos. Provavelmente nossa sexualidade masculina está contaminada com muitos elementos caóticos, mensagens negativas e crenças limitantes da cultura machista dominante.Precisamos devolver ao inconsciente(o mar)as imagens do falo onipotente que deformam a vivência da nossa virilidade.
A sexualidade masculina que Jesus quer dar e reparar é representada por esse homem “sentado, vestido e bom de juízo”, cheio de ânimo e generosidade por seguir o Mestre: “pediu para ir em sua companhia...” É esse nosso desejo, seguir o Senhorapesar dos muitos temores e preconceitos sociais, tipificados naqueles habitantes que insistiam para que Jesus deixasse a terra deles...
Curados e integrados, seremos capazes deviver a força interior da sexualidade no seguimento de Jesus, apesar dos contratempos sociais ou culturais. Só assim será possível de algunssubirem na barca com Ele e de outros irem para a suas famílias, "para casa, junto dos teus", mas todos anunciando a boa nova do Senhor.
Uma pregunta: O que achou deste artigo?
Ei amigo,
ResponderExcluirGostei demais do artigo. Ajuda-me muito na reflexão pessoal e no acompanhamento de pessoas.
Grato por compartilhar conosco,
Grande abraço,
Fernandao
Excelente e original leitura do texto do evangelho! Obrigado, padre Ramón!
ResponderExcluirUma análise ímpar! Que se transforma numa proposta de experiência pessoal estruturante e integradora. Gostei muito, muito!
ResponderExcluirNossa! Muito bom mesmo!!! Riquíssimo de valores com uma óptica contemporânea sob às luzes do Evangelho. Parabéns. Continue a partilhar conosco. Abs.
ResponderExcluirParabéns, Pe. Ramón. Texto excelente para uma conversa com a juventude.
ResponderExcluirJá havia lido essa passagem diversas vezes e nunca havia meditado dessa maneira. De fato, um belíssimo artigo que nos remete ao modo como lidamos com nossa sexualidade.
ResponderExcluirÓtima reflexão! Inusitada, oportuna, esclarecedora, inspirada... Enfim, excelente!
ResponderExcluircreio que se todos nós homens e mulheres podemssemos falar, dialogar com maturidade e transparencia sobre nossa sexualidade e os problemas referantes a ela. teriamos na sociedade menos descontroles emocionais e certos disturbios. Gostei da reflexão.
ResponderExcluirRamón,gostei muito desse artigo. Vou repassá-lo.Gde abraço.Ernesta
ResponderExcluirAchei muito simmples e profundo. Me impactou e me levou a uma reflexão sobre minha própria história. Obrigado.
ResponderExcluirja havia lido antes e não tive comentários pois não tinha entendido muito bem.
ResponderExcluirhoje, reli e fez todo o sentido!
Obrigado pela coragem e entrega!
Um texto reflexivo, e para descansar a mente do excesso de informações que hoje superlotam os canais de comunicação com a eleição do novo Papa, é certo que conhecer nunca é demais, mas tudo que excede o limite destempera,então, desço do céu midiático e encontro aqui nessa terra boa e fértil, uma excelente aula evangélica da sexualidade humana...Parabéns, bonita forma de falar e apresentar aos jovens e por que não à maturidade?!Agradeço Maria angela
ResponderExcluirAcredito que a verdadeira educação sexual, parte do principio da reflexão honesta, justa e com respeito verdadeiro a esta parte da natureza humana, tão polemizada, por vezes tão destorcida, que o silencio parece ser muitas vezes, para boa parte das pessoas, dado ao despreparo em geral para abordar o tema, uma das soluções mais viáveis. Muitos questionamentos surgem e a meu ver voltamos ao livro do Gênese, observando que a desobediência ao Pai (pecado original) desvirtuou nossa essência, trazendo-nos tantos problemas, como por vezes ocorre com o sexo e o casamento, criados por Deus, mas muitas vezes tão cheios de conflitos sérios na vida de tantas pessoas, encontrando ao final mais perguntas que respostas. Parabéns pelo artigo, entender a sexualidade masculina, é algo muito difícil para uma mulher, porém todo esclarecimento honesto é válido para compreendermos as dificuldades e a ótica do outro, daquilo que só podemos entender quando quem conhece a respeito, esclarece. Obrigada padre.
ResponderExcluirÉ muita forçação de barra ou muito misticismo "aproveitar" o texto para falar de sexualidade masculina... Botar os Evangelhos para discutir coisas pontuais de hoje... crusscredo!
ResponderExcluirHomens e mulheres fomos criados à imagem e semelhança de Deus. As razões teólogicas e a tradição da Igreja não são suficientes para estabelecer um divisor de águas e proibir a mulher de subir ao altar. Elas sempre foram mais mais fiéis testemunhas durante a pregação de Jesus, foram as primeiras a vê-lo ressuscitado e a humanidade de Cristo engloba tamém a mulher. A Bem-Aventurada Virgem Maria, que lhe deu a sua carne e O carregou em seu ventre durante nove meses, não poderia Celebrar a Eucaristia.É um contrasenso!
ResponderExcluirÉ um contrasenso o senhor se dizer católico e ao mesmo tempo contrariar a bíblia, a tradição e o magistério só para fazer as vontades do seu ego.
ExcluirMuito bom.
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