22º DTC: ECOLOGIA INTERIOR... (Pe. A. Palaoro SJ)

“Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções...”(Mc 7,21)

Jesus se encontra nos arredores do lago de Genesaré, lugar afastado de Jerusalém, onde era menor a vigilância em relação aos cumprimentos da Lei.

Hoje contrapõem-se a prática dos discípulos com o ensinamento dos letrados e fariseus. Jesus se coloca a favor dos discípulos, e aproveita a ocasião para nos mover a ir mais além; toda norma religiosa, escrita ou não, tem sempre um valor relativo. 

A Lei deve ser cumprida quando nos leva à plenitude humana. Para os fariseus, é preciso cumprir o preceito por ser preceito e não porque ajuda a ser mais humano. Todas as normas que podemos por em conceitos, são preceitos humanos, e não podem ter valor absoluto. Um preceito que pode ser adequado para uma época, pode perder seu sentido em outra. Mais ainda, as normas morais estão mudando sempre, porque o ser humano vai conhecendo melhor seu próprio ser e a realidade na qual vive. As normas antigas não servem para as situações novas.

Em todas as religiões, as normas e preceitos são dadas em “nome” de Deus. Isto pode ter consequências desastrosas. Todas as leis são humanas, equando essas normas surgem de uma experiência autêntica e profunda do que deve ser um ser humano e o ajudam a atingir sua plenitude, podemos chamá-las divinas.

O preceito de lavar as mãos antes de comer era uma norma de higiene, para que enfermidades infecciosas não fizessem estragos entre aquela população que vivia em contato com a terra e os animais. No instante em que uma tradição se converte em um entrave que impeça a pessoa ser mais humana, deve-se abandoná-la. 

Oque Jesus critica não é a Lei como tal, mas a interpretação que dela. Em nome da Lei oprimiam-se pessoas com ameaças graves. Davam valor absoluto à Lei.Todas as normas tinham a mesma importância, pelo fato de serem “dadas” por Deus. Isto Jesus não aceitava.

Toda norma deve ter como fim primeiro o bem do ser humano. O fundamentalismo propõe o bem de Deus em contra do ser humano. E Isso, não está certo.

Deus é Pai/Mãe de Misericórdia e nunca complica nossa vida com preceitos, leis ou tradições... As leis e normas são uma mediação para possibilitar mais vida. No momento em que elas bloqueiam o fluir da vida com o peso dos sentimentos de culpa, não devem ser cumpridas.

O segundo ensinamento é consequência deste:não há uma esfera sagrada na qual Deus se move e outra profana da qual ele está ausente. Na realidade criada não existe nada impuro.A pureza nunca pode ser consequência de práticas rituais. A única impureza é quando o ser humano busca seu próprio interesseà custa dos outros.

Todo aquele que pretende nos impor leis em nome de Deus, está nos enganando. A vontade de Deus é encontrada dentro de nós, e o que Ele deseja está inscrito em nosso mesmo ser. A prioridade não corresponde, portanto, às doutrinas, mas ao coração. Curioso: quanto maior a insistência nas doutrinas e nas leis, mais frieza e petrificação no coração. “Honra-se a Deus com os lábios”,mas o coração está apagado.

É o que sai de dentroque determina a qualidade de uma pessoa. A armadilha está em confiar mais na prática externa de uma norma que na atitude interna que depende só de nós. As práticas religiosas, muitas vezes, são um álibi para dispensar-nos da conversão do coração.

A contaminação e a poluição do meio ambiente são realidades por demais conhecidaMas, junto à contaminação ambiental, há outra contaminação mais profunda que temos esquecida. No evangelho de hoje, Jesus nos fala da necessidade de cuidar da ecologia interior.

O termo “ecologia” não se refere apenas a uma “ecologia exterior”, mas também a“ecologia interior”, própria do ser humano: psique, afetos, espiritualidade, relações básicas...Nossas energias instintivas facilmente se transformam em energias “dia-bólicas”(que dividem). Cada uma delas representa os instintos, impulsos, paixões, fragilidades, sensualidade, sentimentos... que, quando não pacificados e integrados, criam uma desarmonia interior.

Sem esta ecologia interior todos adoecemos!


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