“...que devo fazer para ganhar a vida eterna”? (Mc 10,17)
Jesus saiu caminhando... O caminho é o lugar dos encontros surpreendentes, do diálogo com o diferente. A itinerância é o modo próprio de Jesus viver e, também o dos discípulos.
Ao mover-se de um lugar a outro Jesus encontra diversas pessoas e acolhe todas, sem estereótipos ou julgamentos.
Toda saída implica deixar para trás muitas coisas é um novo êxodo, pois implica despojamento e confronto. Precisamos passar de um olhar auto-referencial e moralizador para um outro mais fraterno e humano.
“Ao sair caminhando, veio alguém correndo...”. O encontro dá-se no caminho de Jesus para Jerusalém, e quem se aproxima correndo, como fustigado por uma urgência implacável é um jovem. Não veio a Jesus como os outros, oprimido pela enfermidade, mas a partir de uma inquietude interior: “O que fazer para ganhar a vida eterna”?
Os evangelhos desvelam dois tipos de perguntas: A primeira é pelo sentido da vida; a segunda é pela vida mesmo. Esta pergunta só é feita pela boca dos pobres.
No evangelho deste domingo, o jovem expõe sua inquietude pela vida eterna em termos de posse (“ganhar”) e, em relação aos mandamentos, diz que os “observava”. Em sua resposta, Jesus emprega os mesmos termos, mas em outra direção: não naquela da posse ou da herança, mas naquela do despojamento, do esvaziamento e da entrega... Isso é “o que lhe falta: vai, vende, dá, segue-me...”
A inquietude do jovem estava centralizada na vida eterna, e Jesus responde apontando para esta vida; preocupado com o “além”, Jesus indica-lhe o “aquém”.
“Uma coisa lhe faltava”, não para herdar a vida definitiva, mas para realizar em si mesmo o projeto de Deus. Todo acesso a um “tesouro no céu” passa por um modo concreto de “gerenciar” o tesouro que se possui aqui, ao estilo de Jesus (“depois, vem e segue-me”). Participar da vida eterna, é participar em prodigalidade e em generosidade já nesta vida.
O espanto se apoderou do jovem: sentia-se diante de uma encruzilhada, na qual era convidado a deixar para trás todos os caminhos já frequentados, e adentrar-se em outro absolutamente novo e cheio de surpresas; mudar o “modo de proceder e viver”; atrever-se a crer numa palavra que afirmava que a vida plena, feliz e abundante consistia mais em deixar do que em possuir...
Sentiu vertigem e se afastou devagarinho, consciente de que os olhos do Mestre continuavam fixos nele. Jesus, ao fixar seu olhar no interior do jovem, o desafiou a colocar-se “em movimento”, e pronto para começar algo novo, convidando-o a fazer caminho com Ele, mas o jovem não aceitou. A estabilidade, o conforto e a segurança de sempre tiveram mais força do que os sonhos que sentia...
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