A “vida oculta” coloca em evidência nossas motivações e nossos valores mais profundos. É a importância do não importante. O importante é ser significativo, e não importante! Cuidado com os critérios do mundo: buscar os primeiros lugares, poder, dinheiro, fama, eficácia ocupam o nosso coração, o Evangelho ficou de lado.
Jesus nos ensina, em Nazaré, o valor das coisas pequenas e corriqueiras, quando são feitas com dedicação e carinho.
É uma teologia do trabalho. O fazer, seja qual for sua motivação, é redentor! Não são as coisas que nos fazem importantes, mas nós que fazemos qualquer coisa ser importante!É o sentido que damos à nossa vida e à nossa ação que fazem com que estas sejam significativas ou não. Somos nós que damos significado às coisas e não o contrário!
Quando são “as coisas importantes” que nos fazem importantes, quando elas sumirem a própria vida perderá o seu sentido... Conhecemos pessoas que perderam a graça de viver quando chegou o tempo da vida oculta (velhice, doença, etc...) Trabalhar é consequência básica da Encarnação e saber se retirar também.
A vida de Jesus foi um processo lento e progressivo, a partir da sua condição humana no meio dos seus, e também do povo de Nazaré. Este pequeno e pobre lugarejo foi `cristificando´ Jesus. A vida de Nazaré chega à nossa vida em alguns momentos (serviços ocultos, doença, rotina, idade...). Jesus nos convida a entrar na sua casa para aprender d’Ele e com Ele os verdadeiros valores do Evangelho. A humildade e a simplicidade são alguns deles.
É difícil compreender a “normalidade” da vida de Jesus Cristo; parece até que o Reino não tem exigências sobre a sua Vida. Identificando-se com a vida de todo mundo mostrava que a salvação não consiste em coisas extraordinárias e em gestos fantásticos, mas na “adoração do Pai em espírito e verdade”. Jesus gasta praticamente toda sua Vida nesta humilde condição; passou desapercebido como Messias.
O Reino se revela no pequeno, no anônimo e não no espetacular ou no grandioso. Ele está misteriosamente se realizando entre nós. Podemos dizer que Nazaré é, em certo sentido, a apologética do cotidiano, das horas, dos meses e dos anos escondidos; da vida monótona, provinciana, não-escrita de Jesus. Para o plano de Deus é importante também quem vive na simplicidade, onde até não pode vir nada de bomou que seja digno e de ficar registrado nos anais da história.
No A.T. (Primeiro Testamento) existe a literatura sapiencial, que é uma verdadeira celebração do Deus no cotidiano, isto é, do Deus que se revela na simplicidade dos atos e dos dias. Baste ter os olhos e o coração `iluminados´ pela fé, a esperança e o amor. É o modo normal de viver o dia-a-dia da maioria das pessoas, e onde também elas se santificam e `cristificam´.
Essa atenção à simplicidade do cotidiano, à natureza da Galileia, à mensagem escondida que Deus coloca no coração das pessoas, é constante na pregação de Jesus. Nazaré é o sinal da “epifania” de Deus na vida cotidiana; é também sinal da palavra divina escondida nas vestes humildes do simples viver.
Tanto em Nazaré quanto na vida pública, Jesus nos comunica o amor do Pai, e sua intima união com Ele.
Jesus inúmeras vezes recorre ao Pai, numa oração confiante e de entrega. Jesus sente quando o Pai o chama também a mudar o seu estilo de vida escondido. Ele está atento aos “sinais dos tempos” e sabe discernir nesses sinais a vontade do Pai que o chama a mudar de caminho, deixar sua terra, lançar-se numa outra aventura a caminho de Jerusalém. Jesus percorreu estradas poeirentas, caminhos perigosos numa vida itinerante a serviço de todos.
Descubra o significado profundo da vida cotidiana: trabalhos, relações, família... Na vida de todos nós há momentos em que Deus intervém, tirando-nos de Nazaré para a vida pública. O dom fundamental a ser pedido é o da fidelidade, da constância, da sabedoria que sabe reconhecer as sutis palavras de Deus, ocultas no interior das pessoas de sempre, dos fatos habituais, da monotonia doméstica.
A vida cotidiana exige não apenas fidelidade, mas também amor e gratuidade.Ainda que o itinerário de Nazaré pareça pobre, se o percorremos com fidelidade e amor, ele se insere no projeto de Deus, e fica abençoado, iluminado... Para não perecer na Nazaré cotidiana é preciso aprender a dimensão gratuita do amor, da doação silenciosa, da oblação incansável de sempre.
Nazaré pode transformar-se em Jerusalém quando, quem a habita, deixa-se possuir pela totalidade da fé e do amor no coração.
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