O homem bom tira coisas boas do tesouro do seu coração... (Lc 6, 45)
A antropologia bíblica considera o coração como o interior do ser humano. O coração é o centro de nosso ser, o cerne mais íntimo, o lugar do encontro com Deus, ou seja, no centro de nós mesmos, unificando nosso ser, está o coração, o “cofre” onde se guarda/oculta o que é mais nobre em nós. Por isso Jesus dava tanta importância ao coração: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”(Mt 5,8).
O coração do ser humano é a fonte de sua personalidade consciente, inteligente e livre. É o lugar de suas escolhas decisivas, da lei não escrita e da ação misteriosa de Deus. Centro existencial que permite à pessoa orientar-se como um todo e plenamente em direção a Deus.
Quem desce às profundidades do seu interior fica fascinado pelo esplendor daquilo que contempla. O coração está habitado de sonhos de vida, de futuro, de projetos. Todo ser humano busca ardentemente a pacificação, e a unificação interior...
O ser humano é o artífice de seu destino. Ele sente o impulso para a expansão de si, e escuta o chamado a viver em plenitude. É no coração que a pessoa se decide por Deus e a Ele adere. É aí que Deus marca“encontro”com cada um. Chegar ao lugar do coração é dom de Deus: Eu lhes darei um coração para conhecer-me; saberão que eu sou o senhor. Eles serão meu povo e eu serei seu Deus; eles se converterão a mim com todo seu coração...(Jr 24,7).
Para os antigos monges, o contrário desta abertura de coração é a “sklerokardia”, ou seja, a “dureza de coração”, que impede a entrada em si mesmo e o encontro com os outros e com Deus. O coração está cheio de mesclas, pois pode palpitar ao ritmo da soberba ou da humildade, do amor ou do ódio, do egoísmo ou da generosidade.
Quando o coração está “fechado”, os olhos não veem e os ouvidos não ouvem; nossos braços e pés se atrofiam e não se movimentam em direção ao outro. Quando o coração está “fechado”, não há mais compaixão e passamos a viver na indiferença, separados e desconectados da vida.
Por ser imagem de Deus, e porque “Deus é Amor”, o nosso coração é capaz do melhor: tem a potencialidade de amar aos outros com um amor gratuito e generoso. Mas, o coração humano é também capaz do pior: dar as costas a Deus e aos irmãos assumindo atitudes intolerantes e julgadoras... Quando o coração é pressa do “diá-bolos” (aquele que desune e divide), então tudo começa a desandar: o “eu” se converte num depredador; os instintos se transformam em obsessões, e a vida fica fragmentada e dispersa. Tudo se petrifica.
Faz-se urgente reconectar-se com a Fonte, onde o coração é continuamente alimentado pelo amor de Deus. O coração pode estar ferido, adormecido, mas não pode morrer.
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