Vivemos num mundo, onde a experiência e a palavra ocupam lugares privilegiados. Quem consegue expressar sua própria realidade e a realidade que o circunda não só consegue entender o acontecido mas, também, o consegue dominar. A Bíblia nos diz que o homem, dando nome às criaturas (Gn 2, 19-20), ficava senhor delas. Quem é capaz de dar nome às coisas ou acontecimentospossui uma segurança e um conhecimento maior do que aqueles que não o fazem.
Não é só em relação às coisas que a palavra ajuda a nos situar. A palavra é fundamental na inter-relação com os outros seres humanos. É pela palavra que nos revelamos ou nos escondemos. Expressar-se fielmente, na verdade, não é fácil. Muitas pessoas não conseguem ultrapassar o nível básico de comunicação entre elas, usando o mínimo de expressões, para revelar o menos de si próprias. Vivem fechadas e não se manifestam por medos e bloqueios. E assim passam a vida.
A comunicação entre pessoas se dá através de gestos e de palavras, que traduzem e concretizam uma possível prática ou teoria.
A verdadeira comunicação deve levar ao crescimento mútuo dos interlocutores. Isto não é fácil. A separação, quase infinita, que existe entre um "EU" e um "TU" só pode ser superada pelo gesto e pela palavra.
Há gestos que ficam incompreensíveis ou ambíguos porque não levam nenhuma palavra. E as palavras se tornam vazias e perdidas quando não vão acompanhadas de algum gesto.A palavra viva e significativa é aquela que é original e se traduz em gesto concreto. Não foi assim o acontecido quando o Verbo (a Palavra!) de Deus se fez carne humana?
Muitas pessoas ficam apenas nos gestos, imaginando que assim expressam tudo o que têm a dizer. Outros falam, sem gestos, e esquecem de se comprometer com aquilo que dizem. Tanto uns como outros perdem o sentido mais profundo da vida.
É preciso correr o risco de se revelar e partilhar, com simplicidade e confiança, o mais fundo da existência. Quando isto acontece, a palavra converte-se em conteúdo e, ao mesmo tempo, em transporte (invólucro!) de um outro conteúdo acontecido, muito mais profundo e existencial, quase que indizível. Quantas vezes as palavras se fazem pequenas, para poder dizer tudo aquilo que se quer expressar. E quantas vezes as palavras se fazem mentira, para ocultar aquilo que não se quer dizer. Em Inácio de Loyola, por pura graça, a sua palavra se transformou em total transparência. Ele foi capaz de expressar o mistério mais profundo de si mesmo (sua própria pobreza ontológica e existencial!), na sua comunicação com Deus, e o mistério do Deus Absoluto (presente na sua própria pobreza!), na sua comunicação com os homens.
Contudo, existem pessoas, que, apesar dos anos percorridos, não têm nada a dizer. Podem até proferir muitas palavras, mas elas não expressam nada do fundo da vida. É como se não tivessem história! Evidentemente, devem ter muitos fatos e muitas outras coisas sucedidas, todas elas soltas e sem nenhum significado profundo, no processo da sua vida. É como se tivessem perdido o fio condutor, articulador de suas fases e ciclos vitais, sem dar-lhes unidade e sentido. Uma série de fatos e eventos aconteceram, mas não foram personalizados!
Fazer história pessoal não é encontrar solução imediata a um acontecimento ou fase, mas aprofundar-se nele e se perguntar: "que sentido tem para mim, no meu processo, o que agora estou vivendo ou vivenciando"? A verdadeira história depende do sentido que cada um decidiu dar à sua vida.
Foi isso que aconteceu, inesperadamente, com Inácio de Loyola.
Como são suas palavras?
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