“...estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, por medo dos judeus...” (Jo 20, 19)
No domingo passado, após a Ascensão, os discípulos retornaram ao Templo de Jerusalém (Estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus. Lc 24, 53). Eles ainda não tinham tomado consciência de que eram habitados pelo Espírito Santo e que deviam sair do Templo para partir em missão. Isso foi em Pentecostes, aí se deram conta de que deviam sair do Templo para transmitir o Sopro de vida(Ruach), e comunicar a todos o Amor universal. A presença do Espírito rompeu os espaços atrofiados e os fez viver de portas abertas.
A Igreja celebra hoje seu nascimento. Os discípulos receberam a força do Espírito em um contexto de debilidade e de medo. As portas estavam fechadas por temor. E é no meio dessa situação que o Espírito rompe as portas e destranca as janelas e converte essas pessoas em comunidade “em saída”, apostólica e missionária.
O Ressuscitado cumpre a promessa definitiva: envia seu Espírito Santo. Espírito de vida e confiança, de fortaleza e verdade, de amor e graça; é o Espírito Santo que torna possível outro mundo, mais fraterno e correto.
O Espírito Santo enche a casa onde os discípulos estavam juntos. Todas as casas são espaço privilegiado da ação Espírito Santo. Um vento sacode a casa, e a enche de luz e de força. Vivemos um permanente Pentecostes.Quando sentimos medo é porque nos centramos em nós mesmos, nos auto-referenciamos, e a realidade nos força a buscar refúgio e proteção. Mas, isso dificulta anunciar o evangelho, levar a boa notícia ao mundo e impede nossa própria realização.
Celebrar Pentecostes é acreditar que “outra igreja é possível”, comunidade onde caibam todos, e se arrisca na missão e no exercício da misericórdia.O medo se transforma em paz, alegria e missionariedade.
Uma pessoa ser `espiritual´ faz referência ao Espírito de Deus. “Espirituais”, de algum modo, somos todos, se deixamos que o Espírito de Deus tenha espaço para mover-se, ressoar e suscitar inquietações dentro de nós; convivência que potencia o melhor de nós mesmos, e faz que a solidão seja habitada e os sentidos antenados.
O Espírito Santo (diferente do espírito de porco!) ressoa na oração, na atividade, ao ver o noticiário, ao dar um abraço, ao ler um livro, em uma canção, ao contemplar um quadro, fazendo um passeio, escutando alguém que nos fala de sua vida... Ressoa na história e na imaginação que nos convida a sonhar um futuro melhor. E, sob seu impulso, amadurecem em nós aquelas atitudes que nos levam a viver com mais plenitude: compaixão, justiça, verdade, amor...
A violência, a injustiça, a intolerância e o preconceito nos enchem de medo e desalento fechando-nos em nós mesmos, em nossos ambientes mofados e práticas religiosas alienadas. É este mesmo Espírito Santo que irrompe em nosso interior, transpassa as portas do coração e ilumina o entendimento para que compreendamos a novidade do Evangelho.
A mudança de mente,de coração,de esperança e deparadigmasexige que todos revisemos nossas vidas, derrubando ideias fixas e em modos fechados de viver... Nada mais contrário ao espírito de Pentecostes do que uma vida instalada e uma existência estabilizada, tendo pontos de referência fixos, definitivos, tranquilizadores...
Em todo ser humano há uma tendência a cercar-se de muros, e encastelar-se numa rede de proteção. A cultura da indiferença edifica uma barreira instransponível entre nós e os outros. A indiferença, a intolerância e a violência são sintomas de desumanização. A partir da reclusão religiosa, social, política, etc., passamos a discursos fascistas, práticas fundamentalistas e a moralismos estéreis.
Pentecostes nos desarma e nos capacita a viver a cultura do encontro que ativa uma relação sadia com tudo e todos.
PENTECOSTES nos faz pessoas mais abertas e fraternas.
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