E a Igreja daquele tempo, como era? A Igreja não era alheia à profunda crise experimentada pela sociedade e pelas pessoas, pois participava, também, dessa mesma decadência. Santa e pecadora, a igreja precisava de uma renovação interior, para sair da sua ambiguidade nominalista e legalista.
Foi o frade agostiniano Martim Lutero (1483-1546), mais moço que Inácio, quem desencadeou a Reforma Protestante. Ventos impetuosos sacudiram e implodiram a cristandade a partir da Alemanha mais por razões políticas do que religiosas.
Também em nossos dias a Igreja está em processo de reforma, crescimento e atualização das suas estruturas. O desejo de viver e irradiar a fé cristã, no contexto de um mundo secularizado e “pós-moderno”, exige dos cristãos maior coerência entre fé e vidapara inculturar a fé numa sociedade irreversivelmente pluralista.
Se hoje, por uma lado, cresce o desejo de unidade entre as diversas Igrejas cristãs(ecumenismo), por outro o fenômeno do fundamentalismo dos novos movimentos religiososdivide, cada vez mais, os cristãos. O Concílio Vaticano II e as Conferencias Gerais do Episcopado Latino-americano (Rio de Janeiro/1955, Medellim/1968, Puebla/1979, Santo Domingo/1992 e Aparecida/2007) orientaram decididamente os rumos do catolicismo contemporâneo.
No meio disso tudo (geografia isolante e história familiar violenta) surge uma pergunta: “que farás da tua vida, Ínhigo de Loyola?”Entre tantos condicionamentos negativos, como realizar positivamente a vida?
Antes de ser Inácio, foi Ínhigo (ignis = fogo!).Ínhigo é o nome do velho homem (violento, apaixonado, mulherengo...);Inácio, pelo contrário, é o nome do novo homem (humilde, serviçal e fraterno!).
Inácio é um convertido e por isso mesmo radical.Deus entrou na sua vida muito mais fundo do que aquela bala de bombarda na sua carne, quando ferido na bendita batalha de Pamplona. Quando ele caiu, ruíram sonhos e fantasias mundanas descobrindo que na sua alma havia feridas mais profundas e doídas do que aquelas de seu corpo. Experimentou com raiva sua fraqueza e com admiração a bondade daqueles que o venceram, e agora cuidavam dele. Aos poucos, foi percebendo que Deus o poupara e começou a brotar nele um sentimento profundo de perdão e gratidão.Aqui se entregou a Deus Ínhigo de Loyola... diz uma placa colocada em seu quarto, hoje transformado numa pequena capela.
Uma vez curado das feridas da batalha de Pamplona (20/MAI/1521), retirou-se a Manresa, pequena localidade da terra Catalã, para confrontar toda sua vida passada com a palavra de Deus. Precisava fazer isso, passar por essa experiência durante quase 9 meses. Foi um segundo nascimento! Sem o saber, iniciara os Exercícios Espirituais (EE), marca registrada da sua espiritualidade. Os EE são uma autobiografia pedagógica, salvificamente escrita; “modo e ordem” que cada um tem de sentir e saborear a descoberta do “sentido da história”própria.
Inácio experimenta o grande amor de Deus que o chama para ser companheiro do seu Filho. Eis sua grande experiência: Deus não só o salva da sua autocondenação, mas misericordiosamente o chama para uma missão. “Salvando-me me chamavas; chamando-me me salvavas!...” E, manco como estava, colocou-se feliz a caminho, no seguimento de Jesus.
Inácio de Loyola foi um homem de Deus, participou plenamente das lutas, alegrias e tristezas dos homens da sua época. Contemplou o mundo de outrora com olhos de fé, com uma vontade imensa de colaborar com o Projeto de Deus de transformar a realidade de pecado em plenitude do Reino. Deixou-se conduzir pela Palavra interiorque o interpelava e convidava a ir sempre mais fundo na vivência do Evangelho. E assim foi longe. Percorrerá o mundo com os companheiros que ele mesmo formou. Viajará pela Europa inteira com Pedro Fabro e João Coduri; chegará às praias da Índia e do Japão com Francisco Xavier; adentará no imenso Brasil, com os padres Nóbrega e Anchieta.
Inácio desejava ardentemente que o mundo todo participasse da salvação oferecida, gratuitamente, em Jesus Cristo. Bendita bala de bombarda que abriu o coração deste homem violento.
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