Atenção! Tomai cuidado com todo tipo de ganância... (Lc 12,15)
No caminho para Jerusalém Lucas nos revela Jesus formando seus discípulos no seu seguimento.No domingo passado, aprendemos a orar com Jesus; no próximo domingo, seremos convidados a uma vigilância criativa, mas agora, neste 18º DTC, o evangelho nos ensina a preservar-nos das falsas seguranças, como o acumular bens materiais, em vez de compartilhá-los com os outros.
Eis questão colocada:queremos nos tornar ricos de coração ou de celeiros? O relato tem duas partes: na primeira, Jesus se nega a ser árbitro em um conflito de herança; na segunda, Ele adverte do risco de centrar nossa vida em buscar segurança nos bens terrenos, distanciando-nos do verdadeiro sentido de nossa existência.
Expandir a verdadeira Vida depende do ser, e não do ter. O objetivo de todo ser humano é ativar ao máximo sua humanidade, e o evangelho diz que `ter´ mais não nos faz mais humanos. A conclusão é simples: a posse de bens não pode ser o grande objetivo do ser humano. A armadilha está nisso: quanto maior capacidade de satisfazer necessidades, maior número delas suscitamos. Os Padres antigos da Igreja diziam: Nosso objetivo não é aumentar as necessidades, mas diminuí-las.
Não é ruim buscar um nível melhor de vida e sermos previsores. Prever o futuro é uma das qualidades próprias do ser humano. Jesus não critica a previsão, nem o empenho por uma vida mais digna. Critica o modo egoístico de fazer isso. A cobiça incapacita para viver mais humanamente.
O rico da parábola não se dá conta de que vive fechado em si mesmo, esvaziando-o de toda dignidade. Só vive para acumular e aumentar seu bem-estar material. Só se preocupa em encher seus celeiros, e não está no seu horizonte o bem dos outros. Ele vive para alimentar seu instinto de posse: “meus celeiros”, “meu trigo”, “meus bens”. Não percebe que seu “ego” apodrece em meio aos vastos celeiros.
Todos fazemos parte de um universo imenso, tudo é interdependente e tudo está intimamente ligado entre si. As divisões, conflitos e rivalidades entres os seres humanos nascem da ilusão de um “ego” que se sente separado e independente dos outros e da natureza.
O “eu ensimesmado” tende a ser depredador, onde tudo deve estar a seu serviço. Tudo fica desfocado, desviado, pervertido porque falta aquela atitude “reverente”, ou seja, viver na alteridade diante do Deus da Vida, das suas criaturas e diante dos outros...
O egonão tem consistência própria; é uma identidade transitória e parasitária. Para subsistir necessita aferrar-se a qualquer “objeto” que o alimente. Vive para ter, acumular, figurar e destacar. Nisso acredita encontrar segurança, estabilidade e consistência. É um coitado!
Quando nos sentimos movidos por sentimentos de compaixão para com pessoas necessitadas, quando ativamos o espírito solidário, quando compartilhamos tudo o que somos e temos, então o nosso “verdadeiro eu”está se manifestando. Quando reconhecemos um momento de honestidade e sinceridade,esse é o nosso verdadeiro eu.
Quando começamos a sentir uma grande gratidão pelos inúmeros dons que a vida nos oferece, podemos ter a certeza de que isso não provém do nosso ego. O ego é completamente incapaz de sentir gratidão. Sentir uma gratidão imensa por todos os dons e graças que recebemos é um sentimento que brota do nosso verdadeiro eu.
Jesus nos revela Deus como Pai e os outros como irmãos. A criação de uma comunidade onde o compartilhar substitui ao acumular e se apresenta como alternativa ao que o mundo propõe. Jesus nos convida a viver a partilha, como abertura aos outros e para criar uma “nova comunidade” alternativa à acumulação e ao consumismo.
Na partilha, a primitiva tendência egoísta e agressiva dá lugar a uma atitude aberta, acolhedora e benevolente frente ao outro.
Onde há partilha, Deus aí está.
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