Queria ser banhado pelo amor...
Não
podemos tampar o sol com a peneira! Queiramos ou não há pessoas homo afetivas. Eu conheço um bocado
delas. Até faz pouco tempo, permaneciam escondidas, e as Igrejas as condenavam ou
faziam de conta ignorar. Mas, agora que tem nome e rosto surgem novas perguntas:
A família acontece só entre pessoas
heterossexuais? Os filhos é o único critério de associação? É evangélico excluir pessoas da
bênção da Igreja?
Faz pouco tempo, namorados homo me disseram: Se casarmos gostaríamos que
o senhor abençoasse nossas alianças... O
quê fazer?
Há uma mentalidade legalista (canonista) e
doutrinal (dogmatizadora) que não tem escrúpulo de excluir quem quer que seja
sem ter em conta as caraterísticas próprias de cada pessoa. Conheço homossexuais que
casaram com mulheres só para viver “aparentemente” conforme a Igreja e outras
que não o fazem para não violentar sua estrutura interna. Ambas sofrem mais do que deveriam e chocam-se violentamente com o seu
projeto vital.
Um
novo horizonte historicamente se nos apresenta: Como
acolher na vida eclesial pessoas divorciadas e casadas novamente e os casais
não heterossexuais?
Há diversos posicionamentos. Uns dizem: A
relação matrimonial é indiscutivelmente heterossexual e complementaria. E ponto. Se as coisas fossem tão simples esse primeiro tipo de casamento não teriam tantas crises. Mas há outras correntes e mentalidades.
Pensemos. A moral teológica da
época post-conciliar desenvolvia o conceito de matrimonio como “comunidade íntima de
vida e amor” (GS 48), mas os enfoques insistentes dos
papas posteriores sufocaram este pensamento mais revisionista e que abria a
porta à compreensão pessoal e humanizadora do casal. A aliança entre duas pessoas (sejam hétero ou homo) é um processo
de amor e de fidelidade em contínua evolução.
A indissolubilidade é a meta de uns e de outros. Pode
não acontecer, mas é o sonho dos que começaram a caminhar juntos.
Toda relação, seja ela hétero ou
homo, possui formas específicas de complementariedade e reprodução (filhos,
cultura...). Todos destacamos mais uma forma do que outra... Quando duas pessoas
resolvem se relacionar não pensando apenas nelas próprias, mas naquilo que elas
podem “criar" em prol dos demais - filhos, cultura, arte, reflexão, solidariedade…
-, isso é evangélico e cristão. A pergunta fundamental é: Produzo algo em benefício de outros?... E isso, independente da natureza ou
orientação dos parceiros que compõem uma relação. O amor verdadeiro transborda para além de si e permanece fiel.
É uma bobagem de mentalidade medieval dizer que os casais homo afetivos destroem a família cristã. A família cristã é diversa desde faz já algum tempo e ninguém destrói o que a gente ama.
O critério para avaliar uma relação será sempre o amor.
E você o que acha desse assunto?
Texto de profunda sensibilidade evangélica, padre! Seus escritos são uma dádiva... (Allan M)
ResponderExcluirPadre, com todo o respeito, se és católico de verdade, deves ensinar conforme a Igreja ensina.
ExcluirY me parece un poco soberbio, un poco pretencioso y un poco falto de caridad (y de piedad filial) juzgar con tanta dureza a la Iglesia. ¿Creerás que a los papas no se les han ocurrido esas consideraciones qué haces? ¿No crees que les sus mucho más fácil someterse al signo de los tiempos? ¿Qué hay de las normas para sentir con la Iglesia de San Ignacio?... (Pepa C)
ResponderExcluirSempre duvidei da radicalidade das teorias...
ExcluirSentir com a Igreja é mais que sentir "com a hierarquia da Igreja". É sentir com toda uma comunidade que vive as contradições e belezas do humano.
ExcluirSentindo assim, podemos " ser Igreja"
Quanto ao texto, eu AMEI! De verdade! Achei acolhedor e de extrema misericórdia. Seus questionamentos e colocações são bastante pertinentes... (A. M)
ResponderExcluirTexto entranhado de compreensão e bom senso; a essência de tudo será o Amor... (Dora C)
ResponderExcluirPrecisamos acolher o outro em sua diferença assim como Jesus nos acolheu em nossos pecados, e não julgar e condenar. Obrigada, Ramón, por conduzir tão bem as reflexões da minha vida cristã.
ResponderExcluirAlguns se acham senhores dos outros! Também há xiitas no meio de nós com seu pensamento impositivo e prepotente...
ResponderExcluira Misericórdia de Deus é muito mais ampla que nosso MUNDINHO.... complexo de leis, normas. Nos tornamos pessoas frias, sem bom senso, falta o amor na relação ao próximo, aceita-lo como filho de Deus.
ResponderExcluirConcordo em número, gênero e grau. Obrigada Pe. Ramón. Renata Moreira
Acho que todo cristão segue o que está escrito na bíblia, e nela no antigo e novo testamento se condenava a prática homosexual. Aqui no Brasil já existe a união homo afetiva, acho incoerente um casamento que a bíblia condena.
ResponderExcluirA Bíblia também condena os leprosos, a voz política da mulher, o consumo de certos tipos de carne etc. Ou fazemos uma releitura dos textos sagrados, ou seremos incoerentes todos nós. "amarás o próximo como a ti mesmo" também pode significar entender a dor do outro ao ser excluído e marginalizado.
ExcluirReleitura da bibliA? Se eu entendi Deus tem que se adaptar a nossas regras e não a gente! Jesus disse amar o próximo e na minha igreja se ama o pecador e não o pecado. A bíblia nunca vai se adaptar aos pecados. Peço a Deus que Ele tenha misericórdia de todos os que pensam como você. Eu amo e respeito todos os seres humanos, independente de opção sexual.
ExcluirMuito bom, Pe. Ramón! Muita sensibilidade e acolhida nas suas palavras. Obrigado por nos acolher tão bem e nos fazer sentir a benção de Deus sobre nossas vidas, sendo quem nós verdadeiramente somos. Um grande abraço... (Hugo L)
ResponderExcluirJá lí e gostei! Minha opinião sempre foi no sentido da acolhida de todos e graças à Deus, me parece ser esta a opinião do nosso Papa. Infelizmente, dentro da nossa Igreja, ainda temos muita gente remando em sentido contrário. Se Cristo veio.para todos, acolheu Zaqueu, a prostituta e tantos outros, será que cabe a nós excluí-los? (Ana P. G)
ResponderExcluirRamón, que orgulho eu tenho de te ter na minha vida. Que abençoada sou por ter te recebido em minha vida. Deus continue te abençoando e te dando forças para continuar nesse caminho ainda tão difícil. Amamos você. Obrigada por ouvir, antes de tudo, nossos corações e nos acolher por quem somos.
ResponderExcluirAinda não consegui admitir que dois homens ou duas mulheres possam formar um casal. Respeito - os plenamente, convivo com alguns até mesmo no trabalho, porém não defendo a causa deles. Uma das pessoas que mais me perseguiu na vida era gay e, quando podia, pisava nas pessoas. Espero que tenham paciência com pessoas que estejam num processo parecido com o meu. Um dia vai, mas por hora, não dá.
ResponderExcluir"Se misericórdia vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim".
ResponderExcluirdo pecador, Vinícius de Moraes
Sabe, Padre Ramon, tenho profundas esperanças quando vejo estas reflexões. Não só pelo conteúdo, mas pela liberdade com que o senhor as faz. Aqueles que acham que a Doutrina está pronta, não tem noção de que a construímos, a cada dia, enquanto Igreja que somos desde o nosso batismo! Estas pessoas acham que estamos querendo "mudar a Bíblia", mas fecham os olhos ao Espírito, que age no decorrer da História... Fico pensando como Jesus agiu com aquela mulher dita "pecadora": não apontou as Escrituras, mas escreveu coisas na terra do chão, que logo se apagariam... É Ele a Palavra, e nenhum outro. E nos dá a sua chave de interpretação, a Misericórdia! Códigos Canônicos, Bulas, Encíclicas, Costumes, não são nada perto do Evangelho e Evangelho, essa boa-nova perigosa, é Amor! No sentido mais transgressor e radical do termo!
ResponderExcluirMas paciência, aos poucos vamos conseguindo promover esta acolhida, própria da maturidade da fé, do sentir-se Igreja! E aí, então, ninguém mais será posto de fora!
Um forte abraço filial!
Devemos respeitar a todos, mas nós católicos temos uma doutrina bimilenar. E quando a Igreja ensina essa doutrina, não quer dizer que ela despreze aqueles que não creem ou não aceitam o que é ensinado. Nós católicos, sejam os leigos ou sacerdotes, temos que obedecer o que a Igreja ensina; por isso, é muito triste ler comentários como os do Padre Ramóm, pois está em total discordância com a doutrina católica.
ResponderExcluirOlá, Milton. Permita-me discordar de sua opinião. A Igreja é "bimilenar", mas a doutrina católica não é um monólito. Já foi lícito no passado queimar gente em nome da fé católica, da mesma fé que contém o mandamento "Não matarás". Isso mudou (graças a Deus). A própria interpretação da Bíblia, que é o texto mais denso e profundo que conheço (e, por profissão, conheço muitos), não foi sempre a mesma. Confronte Isidoro de Sevilha, Tomás de Aquino, Santo Agostinho, e os primeiros jesuítas que foram para o Novo Mundo. Eles colocaram perguntas importantes que mudaram uma série de conceitos em seu tempo. Acho que a discussão colocada neste blog participa desse espírito, que já chegou à Santa Sé. Não acredito em mudanças imediatas e irrefletidas, mas acredito de coração na busca incansável do Bem. E onde está o amor, o amor verdadeiro, parece-me ser o lugar mais próximo de Deus. Saudações a vocês, e aos participantes da discussão. Patricia Camargo
ExcluirComo é bom se sentir irmão de gente de mente lúcida e coração generoso. Obrigado, mano Ramon, por nos abrir essa possibilidade.
ResponderExcluirA reflexão sobre os temas da bíblia e doutrina é importante, mas não podemos deixar de lado o que Igreja sempre ensinou. Sobre aos erros do passado, como queimar gente por causa da fé, hoje já se sabe que muita coisa não aconteceu. O Papa João Paulo II realizou um simpósio no Vaticano sobre a Inquisição com os maiores historiadores especialistas no tema. O que se verificou foi que, na verdade, muita coisa que está nos livros de história não aconteceu.
ResponderExcluirOlá, Milton. Acho que o Vaticano deveria ter disponibilizado a íntegra desses documentos online, sobretudo o relatório final, para evitar o negacionismo, e também os exageros. De fato, muitos números foram revistos, mas não se pode dizer que as execuções "não aconteceram". Podem ter sido 30, 10 ou 3 mil - ou muitas mais não documentadas, porque nem tudo o que acontece é documentado, e nem todo documento é conservado - mas aconteceram, com a concordância da Igreja. A praça "Campo dei Fiori" de Roma e os arquivos não permitem a negação do passado (como alguns tentam fazer hoje com o Holocausto). E justamente porque o passado é algo tão difícil e decisivo que a profissão do historiador deveria ser mais valorizada. Concordo com você que os livros devem ser lidos com cautela (como a própria informação de arquivo), mas devem também ser lidos com uma dose elevada de coragem e de desejo de buscar a verdade. Saudações, Patricia
ResponderExcluirPadre nessa questão não concordo com o que o senhor está expondo, porque hoje em dia o AMOR está completamente deturpado. E com certeza com esse argumento que " o critério para avaliar a relação será o amor" é muito fraco. Porque damos brecha para que esse falso amor seja usado como base pra casamentos matrimoniais homoafetivos.
ResponderExcluirNo entanto Papa João Paulo II fez diversas catequeses sobre a complementariedade do homem para a mulher e vice versa. Aconselho a todos a ler e estudar a Teologia do Corpo, pra entender melhor a relação familiar.
Eu sempre respeito pessoas que tem outra opção, não costumo julgar, apesar de achar estranho. Mas é algo que não entendo. Porém, eu levo bem a sério a posição da Igreja a respeito da união sacramental e aí creio que não tem conversa, pois o homem foi criado para a mulher (e vice-versa) e (ponto).
Olá Guilherme,
ResponderExcluirAs reflexões do outro sempre podem ajudar a nossa reflexão, quando a recebemos com o coração desarmado.
Fiquei pensando na sua expressão "falso amor". Taí algo difícil de avaliar, o amor que o outro sente. Na dúvida, busco inspiração no texto mais denso e profundo que conheço sobre o amor. Tomo a liberdade de compartilhar com você a sua releitura:
Se não tenho Amor...
Ainda que eu fale mais alto que todos em minha casa, fazendo calar as outras vozes, se não tenho Amor, sou como um sino ou campainha estridente, mas solitário e inútil...
Ainda que eu fosse capaz de prever e programar tudo, organizando e colocando sob meu controle cada detalhe da casa, se não tenho Amor, sou pouco mais que nada...
Ainda que eu me sacrifique no trabalho, dedicando horas e horas de esforço para garantir mais conforto à minha família, se não tenho Amor, nada disso adiantaria muita coisa...
O Amor é paciente... mesmo quando a rotina do cotidiano desgasta e exaspera, na monotonia dos erros repetitivos e comuns, que acabamos, na convivência, conhecendo tão bem.
O Amor é prestativo... não só com quem chega de fora, mas em especial com aqueles com quem convivemos no dia a dia mais banal. A relação familiar, a intimidade, o convívio, precisam de cuidado, ternura e delicadeza como as plantas, todos os dias, precisam do toque suave dos raios do sol.
O Amor não é invejoso, não se ostenta, não se enche de orgulho. Ele é capaz de encontrar alegrias improváveis, nas coisas e situações mais simples do cotidiano.
O Amor nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse. Ele é generoso, gratuito, de uma alegria quase infantil que brota, transborda e se espalha em cada gesto ou palavra.
O Amor não se irrita, não guarda rancor. E talvez esteja aí o maior desafio para o Amor. Mas ele supera seus próprios limites e é capaz de amar mesmo quando é impossível gostar. O Amor então se faz respeito silencioso, um querer bem que ultrapassa qualquer mágoa ou desejo de vingança. Pois o Amor tudo desculpa... sem anotar nada “no caderninho” para cobrar depois...
O Amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. E porque a verdade gera confiança, o Amor tudo crê. E quem crê tem sempre esperança. Por isso, o Amor tudo espera... pois uma das características do Amor é o bom humor, que prepara sempre um sorriso para depois da lágrima...
O Amor tudo suporta, porque sabe que o insuportável mesmo é viver sem Amor
O Amor jamais passará, pois o que É não passa. O tempo do Amor é Sempre!
Um dia, o que não É, vai encontrar seu termo; profecias, conhecimento, a ciência da qual nos orgulhamos tanto, tudo desaparecerá. Mas em nós há, plantada, uma semente de eternidade. Quem plantou foi o Amor. E só o Amor é capaz de preencher todos os espaços, superar todos os limites, abrir todas as possibilidades.
Em nós mora o amor, em nós transborda o desejo de amar, pois somos imagem e semelhança do amor que nos criou. Amém!
Eduardo Machado
Inspirado em ICor 13,1-13
O Papa Francisco escreveu na "Amoris Laetitia", artigo 251:
ResponderExcluir"No decurso dos debates sobre a dignidade e a missão da família, os Padres sinodais anotaram, quanto aos projetos de equiparação ao matrimónio das uniões entre pessoas homossexuais, que não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família. É «inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem a ajuda financeira aos países pobres à introdução de leis que instituam o “matrimónio” entre pessoas do mesmo sexo»."
Fico com o Papa.
O autor do blog deve ter seus desejos obscuros para defender os gays.