Entre as vozes mais críticas do Documento de trabalho preparado para o Sínodo da Amazônia, se levanta a falsa acusação de que a figura de Jesus Cristo havia sido praticamente esquecida. Tal afirmação não é verdadeira. Logo no início do texto se lê que o desejo deste processo de escuta e discernimento dos novos caminhos para a Igreja na Amazônia visa ajudá-la a discernir como “anunciar o Evangelho de Jesus Cristo durante os próximos anos”.
Em seguida, se faz referimento ao documento conclusivo da Assembleia dos bispos da América Latina, Aparecida/2007, e se recorda que o serviço pastoral da Igreja deve ser voltado “à vida plena dos povos indígenas [a qual] exige que anunciemos a Jesus Cristo e a Boa Nova do Reino de Deus, denunciemos as situações de pecado, as estruturas de morte, a violência e as injustiças internas e externas, e fomentemos o diálogo intercultural, inter-religioso e ecumênico”. Mas, qual o critério que devemos usar para saber o que anunciar e denunciar? O próprio Instrumentum laboris responde: “Procuremos discernir este anúncio e esta denúncia à luz de Jesus Cristo, o Vivente (cf. Ap 1, 18), plenitude da revelação (cf. DV, 2)”. Mais cristológico do que isso, impossível!
A centralidade de Jesus Cristo no documento se faz evidente. E quando aborda a importância do diálogo entre a fé cristã e outras crenças, em um mundo multiétnico, multicultural e multirreligioso como a Amazônia, também o referencial é a pessoa de Jesus Cristo, uma vez que Ele “foi um homem de diálogo e de encontro... A partir de sua encarnação, o encontro com Jesus Cristo se realizou sempre no horizonte de um diálogo cordial, histórico e escatológico”. De fato, diferente das posturas farisaicas de ontem e de hoje, incapazes de se relacionar sem julgar e condenar os outros, o Filho de Deus encarnado continua sendo o modelo perfeito de abertura e acolhida do outro. Recordemos a belíssima descrição que faz de Jesus o grande exegeta e teólogo Carlo Maria Martini SJ, cardeal arcebispo de Milão:
“Jesus fez visível o amor de Deus através da sua vida e de suas palavras... Jesus viveu de forma muito simples para estar perto de todos. Também escolheu a vida itinerante a fim de estar disponível para todos os homens e não levantar nenhum muro em torno a si mesmo. Jesus saiu ao encontro dos estrangeiros. E o mais importante: podia dar a outros seu amor. Seu amor tomava a ofensiva. Ele não somente se sentiu bem em sua casa, mas ia de aldeia em aldeia, de cidade em cidade. Ia aos lugares onde havia conflitos, onde tinha que aplicar o seu amor para que pudesse haver paz entre pagãos e judeus, entre romanos e Israel. Ele se arriscou a entrar em conflitos e mostrou que o amor de Deus tem que modificar o mundo, modificar esses conflitos”.
Na contramão dessa práxis de Jesus estão as posturas defensivas e fechadas a qualquer diálogo, como se ele fosse incompatível com a evangelização. Por isso, criticam a abertura que o Papa Francisco tem assumido, ao conclamar que sejamos uma Igreja em saída. Para as comunidades eclesiais e os povos da Amazônia, ao contrário, é precisamente por meio do diálogo que se encurtarão as distâncias e haverá melhores dias para todos, como recorda o Instrumentum laboris: “O diálogo é o método que se deve aplicar sempre, para favorecer o bem viver de todos. As principais questões da humanidade que sobressaem na Amazônia não encontrarão soluções através da violência nem da imposição, mas sim mediante o diálogo e a comunicação”.
Respeitar, acolher e dialogar com culturas e religiões diferentes, sejam aquelas do mundo grego do início do cristianismo ou as atuais do mundo indígena da Pan-Amazônia, em nada diminui a nossa identidade cristã, mas antes torna os cristãos mais parecidos com Aquele, de quem são chamados a serem discípulos e seguidores:
"Se me sinto separado do outro e penso que ele é mal e eu bom, que ele é fraco e eu forte, então não o amo. Se sei que todos estamos no mesmo saco, essa ideia desperta em mim um sentimento de compaixão e de amor... Jesus cita o Antigo Testamento, ao dizer: Temos que proteger os fracos, perdoar os culpados. Temos que aprender a resolver conflitos, a dissolver inimizades, a construir a paz... Todas as Igrejas, todas as religiões têm como meta fazer o bem no mundo, fazer que o mundo se torne mais luminoso. E Jesus os ajudará a realizar melhor sua missão no mundo”.
Tudo o que acima refletimos nos leva a concluir que “o Sínodo da Amazônia é um sinal dos tempos no qual o Espírito Santo abre novos caminhos que discernimos através de um diálogo recíproco entre todo o povo de Deus”, não havendo razão para temer pela sua realização, nem muito menos combate-lo. Como vimos, o documento preparatório deste encontro está pautado solidamente na doutrina emanada da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério da Igreja, especialmente dos nossos últimos papas. A busca de novos caminhos de evangelização para as igrejas amazônicas e o fortalecimento de uma ecologia integral em nada nos afastam da nossa identidade e missão, pois ambas visam tornar a nossa casa comum, que é todo o planeta, em um mundo melhor, mais parecido com o projeto de Deus para a sua criação.
Às vésperas do início do Sínodo Especial sobre a Amazônia, unamo-nos em oração para que ele “seja uma expressão concreta da sinodalidade de uma Igreja em saída, para que a vida plena que Jesus veio trazer ao mundo chegue a todos, especialmente aos pobres” e às populações indígenas da Amazônia, a quem devemos estimar e respeitar.
Cuidado! Os que criticam o Sínodo só querem criar confusão e atacar o Papa Francisco.
"Os que falam outras coisas só querem criar confusão e atacar o Papa Francisco"
ResponderExcluirQuem discorda e apresenta argumentos que até agora não foram rebatidos são inimigos da Igreja? Que diálogo é esse? Com outras religiões querem dar voz e fazer concessões mas os católicos com outras opiniões que não a do Vaticano devem ser silenciados pela desqualificação de suas pessoas, baseado na leitura de seus corações e intenções pessoais por parte do establishment clerical. Não é só Deus quem lê os corações? Querem tomar seu lugar até no julgo da consciência alheia?
Se antes mesmo do Sínodo só existe um lado certo, mesmo tão radical e cheio de propostas novas e amplamente conhecidas, então por que do Sínodo? Se todos alinhados à cúpula de poder de Francisco já concordam entre si, indicaram pessoas a dedo pra dizerem o que eles querem e não precisam ouvir mais ninguém, por que este teatro? Querem usar a legitimidade de um Sínodo para decisões já tomadas pela cúpula do Vaticano?
Muito triste como os fiéis, padres, bispos e cardeais são tão facilmente transformados em inimigos só porque ousam expressar suas opiniões inconvenientes ao establishment político da Igreja.
Santo Inácio e seus santos companheiros e mártires em missão nas Américas seriam tratados como causadores de "confusão" em período pré Sínodo da Amazônia.
ResponderExcluirConversão ao cristianismo deve ser evitado, segundo até pessoas do clero, tem bispo na Amazônia que se orgulha publicamente de nunca ter e que nunca irá batizar um índio. O importante em 2019 é o diálogo, convivência com outras religiões. A cruz, a comunhão, a vida cristã são detalhes que podem ser deixados de lado por esse falso ecumenismo?
A Companhia de Jesus nas Américas foi fundamental para sua conversão, hoje não é só gente de fora da Igreja que lamenta esse passado santo.
Na Catedral da Sé em evento ecumênico em defesa do Sínodo, no dia 30/09, não faltaram bandeiras e cartazes políticos de esquerda e inúmeros "Lula Livre" espalhados na Igreja ...
ResponderExcluir‘A minha casa será chamada casa de oração’; vós, ao contrário, estais fazendo dela um ‘covil de salteadores’
Mas quem critica o Sínodo só quer "criar confusão", não?
Essa gente do bem que defende o Sínodo (mesmo sem frequentar Igreja) veste vermelho e grita "Lula livre" que esta certo, e são os católicos que seguem a doutrina milenar da Igreja que devem ser expulsos dos templos?
Olhe o caminho para o qual o clero de esquerda esta levando a Igreja!
Profanar uma Catedral pra fazer ato político com a cumplicidade de dois cardeais... e dizem que errado é quem denuncia, querem "atacar o Papa"