Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo... (Jo 1,29)
Estamos no início de um novo ciclo litúrgico, o “Tempo Comum”, centrado no Evangelho de Mateus; mas, o relato deste domingo é tirado do evangelho de João, que começa com uma imagem forte de João Batista, revelando Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
O sinal de Deus é um Cordeiro, não a Águia destruidora, nem o Leão poderoso... Jesus, o Cordeiro que se faz presente entre os pequenos, os fracos, excluídos e abre caminhos de vida para todos.
Já não há mais necessidade de sacrifícios de animais realizados por grandes sacerdotes, porque Deus se fez Cordeiro entre os cordeiros, e Graça que perdoa e ama. Frente a uma religião centrada nos pecados e sacrifícios, o Jesus do 4º Evangelho abre o caminho de graça, rompe a escravidão religiosa, e oferece o dom da salvação a todos: judeus, pagãos e cristãos.
João Batista aponta para Jesus, e indica sua missão: “tirar o pecado do mundo”. Tanto no texto grego como latino, “pecado” está no singular. Não se refere só aos “pecados” individuais, mas o “pecado do mundo”, esse mundo fechado e que rejeita Deus... É o “pecado de raiz”, enraizado nas estruturas sócio-políticas e econômicas-religiosas.
O dinamismo do mal está entranhado no nosso mundo, nos nossos projetos, desejos e ações. A experiência do pecado é de desvio de rota, frustração da nossa vocação, experiência que desumaniza e nos faz viver uma existência vazia... Jesus tira o pecado do mundo destruindo a opressão. Não estamos diante de um Deus ofendido e que exige a morte do Filho para satisfazer suas ânsias de justiça. O “pecado do mundo” não tem que ser expiado, mas arrancado, eliminado e destruído. Jesus “tira” o pecado do mundo inteiro, reconstruindo as relações quebradas.
Para o evangelista João, portanto, há um só pecado (a opressão, a injustiça) e um só mandamento (o serviço, o amor). Jesus tira o pecado do mundo escolhendo o caminho do serviço, da humildade, da pobreza, amando a todos indistintamente. Esta atitude destrói toda forma de domínio, de injustiça e violência, revelando que a salvação de Deus chegou para todos.
Na perspectiva bíblica, o pecado aparece como a ruptura de uma aliança com o Criador, com os outros e com as criaturas. Não se trata de uma mera infração, mas a quebra de uma relação de amor e de amizade. Em uma palavra: recusa a viver e a amar.
Os horrores do sofrimento, ódio, violência, guerra, pobreza, exclusão... são imagens bem vivas da “experiência infernal” que vivemos. São consequência do desamor...
Há uma “história de pecado”: história de desintegração, de divisão, de desumanização... Ao distanciar-nos do Criador, rompemos a relação cordial com todos e caímos num devastador vazio existencial. O “auto-centramento”, provoca a quebra da “religação” com tudo e com todos.
O pecado – enquanto ruptura de relações - nos faz cegos e surdos diante do mundo. Fome e sofrimento já não nos impactam. Maldade, mentira, preconceito, intolerância não nos afetam. Anestesiamos nossa sensibilidade e entramos num estado de apatia para com tudo. A compaixão está ausente da esfera pública e de nossas relações interpessoais.
Desejamos realmente que o mundo seja novamente o sonho de Deus? Nossa vocação, como seguidores de Jesus é a de construir pontes e reconciliar os desavindos.
É aqui, neste mundo, que Deus nos chama a estender o seu Reinado, curando, ajudando, transformando, multiplicando os esforços humanos. Apaixonados por Deus, nos apaixonamos pelo mundo que, em sua diversidade, riqueza, profundidade, fragilidade, sabedoria... nos fala e nos revela o rosto misericordioso do Deus que se humanizou para humanizar nossa vida.
Frente a uma “cultura da morte”, queremos “globalizar a solidariedade”. Um outro mundo é possível!
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