4º DTQ: “DESCER” ÀS ÁGUAS DE SILOÉ... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Vai lavar-te na piscina de Siloé... (Jo 9,6)
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Toda espiritualidade cristã é uma “espiritualidade de olhos abertos” à realidade. Uma espiritualidade que não desemboca na compaixão está errada. A CF/2020 nos apresenta o bom samaritano como personagem inspirador de nossa espiritualidade cristã“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.

Todos nós, de uma maneira ou de outra, somos cegos de nascimento, porque nascemos e nos educaram a ter um olhar avesso e atrofiado. A cura do cego de nascimento é o que o Senhor quer fazer em cada um de nós: Ver e caminhar na claridade do dia. 

Jesus vai curar este homem cego com um gesto simples: ungiu os olhos com um pouco de barro, e depois o enviou a lavar-se na piscina de Siloé. É uma cena de reconstrução e que recorda o barro com que Deus oleiro criou o primeiro ser humano. No cego curado se revela a ação permanente de Deus.

Este relato de João propõe um processo catecumenal conduzindo o ser humano das trevas à luz, da opressão à liberdade. Mas, para isso, é preciso deslocar-se e descer em direção a Siloé, lugar das águas recriadoras.

O caminho de “descida” é o caminho da vidaO reservatório de Siloé está situado fora das muralhas, na parte baixa de Jerusalém e recolhia a água da fonte de Guijón, sendo conduzida por um túnel de 500 m. (daí o nome aramaico de “siloah”= água enviada), mandado construir pelo rei Ezequias no ano 700 aC, para a água chegar à cidade. 

O cego se faz presente no reservatório, lava-se e assume sua vida como se fosse um novo nascimento. Agora acredita em si mesmo, e na sua capacidade de dar uma nova direção à sua existência. Podemos até dizer que a cegueira era a perda do contato com sua fonte divina, agora recuperada. As duas narrativas de cura mais importantes no 4º evangelho, ocorrem uma no tanque de Betesda e a outra no reservatório de Siloé...Quando nos separamos da fonte divina, adoecemos e pouco enxergamos. 

Jesus reconstrói o cego quebrado em sua dignidade, mas motiva-o a assumir sua responsabilidade deslocando-se até o reservatório de água de Siloé. Caminhar em direção a Siloé é descer ao mais profundo de si mesmo para lavar-se no manancial das águas puras.

O ser humano é dotado de recursos internos inesgotáveis. Cada um possui dentro de si uma fonte de forças reconstrutoras, renováveis e resilientes. Sabemos e sentimos, no mais profundo, o que é mais saudável e vital para nós, porém precisamos do encorajamento externo para voltar a confiar em nossas próprias potencialidades.

experiência de oração, junto à Piscina de Siloé, nos conduzirá à outra fonte, aquela que brota do coração, e que estava ressequida, impedindo-nos de reconhecer o murmúrio da água viva.

Sentados à beira de tal fonte poderemos atingir experiências imprevistas e surpreendentes, e reconhecer, pelo murmúrio das águas, “vozes novas” que nos incitam a peregrinar para o mais fundo do nosso interior.

O manancial de nosso ser essencial constitui nossa autêntica vida. Descobri-lo, abrir-se a ele e vivê-lo cada dia constitui a plenitude de nossa realização. 

Vamos a Siloé, e deixemos de lado nossa rivalidade e vazio, fechamento e rigidez, superficialidade e isolamento. O encontro com a água viva abrirá nossos olhos para assumir um estilo de vida mais coerente com a nossa fé. 

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