De quem é a imagem e a inscrição desta moeda?... (Mt 22,20)
É importante estar atento ao contexto em que se situa o evangelho de cada domingo. Hoje, os chefes religiosos compreenderam que as parábolas polêmicas (os dois irmãos convidados pelo pai a trabalhar na vinha, os vinhateiros homicidas, o banquete de casamento) se referiam a eles; por isso, contra-atacam Jesus com três perguntas capciosas (pagar ou não o imposto a César, a ressurreição dos mortos e qual é o primeiro mandamento).
Hoje, perguntam a Jesus sobre o imposto a ser pago aos romanos. Assunto polêmico que dividia a opinião pública. Os adversários de Jesus buscam acusá-lo e, assim, diminuir a sua influência junto do povo.
As perguntas a Jesus são para Ele ocasião privilegiada para ir além das mesmas perguntas. No evangelho deste domingo, Jesus responde ao que não lhe haviam perguntado: É licito pagar ou não o imposto a César?
Jesus denuncia a submissão dos fariseus e herodianos que carregavam consigo moedas com a imagem do imperador romano. Na prática, eles já reconheciam a autoridade de César. Jesus, ao perguntar – “de quem é essa imagem e essa inscrição” – está fazendo referência ao Gênesis, onde se diz que o ser humano foi criado à imagem de Deus.
O ser humano é “imagem” de Deus e só a Ele pertence. O único absoluto é Deus. Trata-se de uma “submissão amorosa” que não se impõe (imposto), pois o convida a entrar em sintonia com Ele, numa comunhão de vida e compromisso com os outros. O “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” poderia ser traduzido por “dai a César o que é de César, mas não lhe deis o que é de Deus”.
O que interessa a Jesus é que “deem a Deus o que é de Deus!”, isto é, pratiquem a justiça e a misericórdia, pois a hipocrisia dos fariseus e herodianos negava a Deus o que lhe era devido. Em outras palavras: não entregueis a nenhum “césar” o que é de Deus: os pobres e os pequenos que são os prediletos do Pai. Não sacrificar a vida e a dignidade dos pequeninos a nenhum poder político, econômico ou religioso. Os pobres são de Deus e nenhum poder abuse deles.
Com sua resposta, Jesus propõe rejeitar qualquer tipo de poder. César se impõe pelo poder (imposto), que oprime e exclui; Deus não se impõe (não é imposto), faz-se dom e se aproxima de cada um de nós, se faz comunhão. O Deus que Jesus nos revelou se faz presente no pequeno, naqueles que não tem voz nem vez neste mundo.
Esta identificação de Deus com cada ser humano não vai na linha do poder que se impõe, mas na direção do amor que se faz oferta. Deus revela sua transcendência não no poder que tanto buscamos, mas na humanidadeda qual queremos constantemente escapar.
Todo ser humano traz impressa a imagem de Deus; o dinheiro vale o que vale o poderoso que o imprimiu; o ser humano vale o que vale Aquele que o criou à sua própria imagem. Trazemos impressa a imagem de Deus, por isso, o ser humano tem um valor absoluto. Por isso, o ser humano não pode ser “produto” que vendível.
Nesse contexto se situa esta passagem sobre o tributo a César, que os adversários apresentam a Jesus para pegá-lo em contradição.
Vivemos em um contexto social e econômico onde o “deus dinheiro” determina as relações humanas, inclusive no campo religioso. O neo-liberalismo endeusou o “poder monetário”, destruindo aquela “imagem” divina impressa no coração de cada um. E o ser humano passou a ter “valor de mercado”, e toda pessoa que não produz ou não é rentável (doentes, idosos, pobres...) é descartado.
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