Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes... (Mt 25,40)
A festa de Cristo Rei culmina o ano litúrgico. E é hora para “julgar” o sentido e a marcha da nossa vida. O evangelho nos coloca a parábola do “juízo final”, onde Jesus se revela identificado com todo ser humano, vítima de estruturas de morte, violência ou exclusão.
A parábola não é uma visão antecipada do “final do mundo”; ela nos fala do nosso “modo de proceder”, aqui e agora; despertar nossa responsabilidade no presente, e afasta-nos de tudo que desumaniza.
A parábola fala-se de seis situações de necessidades básicas. São situações que acontecem em todos os povos e em todos os tempos: famintos e sedentos, imigrantes e nus, enfermos e encarcerados. O relato ajuda a nos examinar.
Em cada pessoa que sofre, Jesus vem ao nosso encontro. É um exercício de discernimento,para verificar qual “espírito” nos move e para onde nos impulsiona: “espírito” de compaixão, solidariedade, compromisso ou, pelo contrário “espírito” de auto-centramento, preconceito e indiferença?...
A cena se concentra entre o juiz, o “Filho do Homem”, e dois grupos de pessoas: aqueles que aliviaram o sofrimento dos mais necessitados e aquele que, insensíveis, negaram-lhes ajuda.
Ao longo dos séculos, os cristãos viram neste diálogo fascinante a melhor recapitulação do Evangelho, o elogio do amor solidário e a advertência contra aqueles que vivem falsamente a religião. O decisivo são os gestos de ajuda aos necessitados, e que brotam no coração de uma pessoa que crê em Deus ou no coração de um ateu que atua em favor daqueles que sofrem. Quem ajudou não o fez por motivos religiosos, pois apenas buscou aliviar um pouco o sofrimento que há no mundo. Eles entram no Reino de Deus como “benditos do Pai”.
O critério decisivo, segundo Jesus, não é religioso, mas ético; não tem a ver com crenças, mas com entranhas compassivas. Só quem tem coração compassivo é capaz de ajudar a partir da gratuidade. Não faz isso para conseguir algo em troca, nem sequer apresenta uma motivação religiosa: “Senhor, quando foi que te vimos?...” De igual modo, os que procuraram agradar o Senhor, são repreendidos por não tê-Lo reconhecido na pessoa dos mais necessitados. Para Jesus, instituições ou pessoas comprometidas em alimentar aos famintos, vestir aos desnudos, acolher aos imigrantes, atender aos enfermos e visitar aos presos, é o melhor reflexo do coração de Deus e a melhor concretização de seu Reino.
Cada grupo se dirige para o lugar que eles mesmos escolheram, pois uns reagiram com compaixão diante dos necessitados e outros viveram indiferentes diante de seus sofrimentos. O que decide sua sorte não é a religião, mas se foram movidos pela compaixão, ou não. A parábola deste domingo, portanto, contém uma mensagem revolucionária e subversiva para o mundo religioso: existe um caminho para nos encontrar com Deus que não passa pelo Templo.
O “castigo” ou a “vida eterna” é o resultado de uma determinada maneira de viver.
O “inferno” não é um lugar ao qual Deus nos condena, mas uma situação onde nós mesmos nos “fechamos”. É o que a Bíblia chama de “endurecimento do coração”, que se opõe à bondade e se petrifica na maldade. Não é Deus que nos envia ao inferno, mas o endurecimento do coração que nos fecha e nos isola.
A justiça vingativa ou punitiva, responde o mal com o mal. Esta justiça não é a de Deus; a justiça divina restauradora e re-criadora. Visto assim, o último juízo é uma Boa Notícia para todos “os benditos do Pai” e “os herdeiros do Reino”.
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