Começo da boa notícia de Jesus Cristo, Filho de Deus... (Mc 1,1)
Ao longo deste novo ano litúrgico, seremos inspirados pelo evangelista Marcos para viver o seguimento de Jesus. “Começo da boa notícia de Jesus...” O livro de Marcos deve ser ouvido como “boa notícia” sobre Jesus Cristo.
Com Jesus “começa algo novo”. Todo o anterior pertence ao passado. Jesus é o começo de um tempo e um caminho novos. Com Ele chega a boa notícia de Deus. Quem se encontra vitalmente com Jesus e mergulha um pouco em Seu mistério sabe que começa uma vida nova. Em Jesus, todos nos encontramos com “a salvação de Deus”.
Causa assombro este início solene do evangelho de Marcos? “Preparai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas...”. Esta Palavra nos recorda que, para acolher o Senhor, precisamos sair dos lugares estreitos, das nossas ideias fixas e “fazer estrada” com o Deus Peregrino. Os primeiros cristãos eram conhecidos como os “adeptos do caminho” (At 9,2). “O místico não habita em parte alguma, ele é habitado” (Michel de Certeau).
“Fazer caminho” não significa apenas deslocamento geográfico. “Deslocar-se” implica uma mudança de posição, uma expansão do próprio olhar, uma abertura ao novo, uma adaptação a realidades, tempos e linguagens, um encontro com o diferente que deixa necessariamente impressões muito profundas.
A experiência do caminho é a experiência de fronteira e do espaço aberto que o ser humano precisa para ser ele próprio. Nesse sentido, a viagem é uma etapa fundamental da descoberta e da construção de si mesmo e do mundo. A conversão supõe movimento e implica itinerância.
Estamos decididos a percorrer os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta? Ou nos entrincheiramos em estruturas caducas que perderam a capacidade de resposta?
Caminhar é sair do centro, das seguranças, da acomodação... e ir em busca das surpresas e das novas descobertas. Precisamos, mais do que nunca, da figura do profeta, autênticos profetas que nos ajudem a encontrar o verdadeiro caminho. Caminhantes somos, todos no mesmo percurso, no mesmo vôo, no mesmo barco.
Esquecemos nossa condição de nômades, peregrinos de Deus, pensando que podemos construir uma casa permanente sobre o mundo. Somos nômades do tempo e peregrinos de Deus, para além de todas as formas e estruturas que fomos criando ao longo da história.
Ser nômade significa caminhar leves de equipagem e por itinerários que ainda não foram percorridos por ninguém, não como aves migratórias que vão e voltam por rotas pré-fixadas na mesma evolução do tempo.
O tempo do Advento nos leva para fora dos pequenos lugares de refúgio que fomos edificando (nossas torres de Babel) para amar, viver e morrer no descampado, como Jesus, enquanto buscamos e esperamos a cidade futura. Assim, caminhamos com Ele, sabendo que nem o olho viu e nem o ouvido ouviu o que poderemos olhar e escutar se continuamos caminhando com Jesus.
Neste Advento, não somos simples espectadores, mas, sim, criadores de futuro. Unidos por uma esperança compartilhada. Queremos ser pessoas de Advento, sabendo que nossa história não está escrita nem fixada ainda. Nossa vida não está escrita, mas precisamos escrevê-la, em Deus e com Deus. “Somos advento”, e vivemos em “estado de advento”.
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