“Para todos ressoou nesta assembleia a Palavra de Deus, que nos convida hoje a aprofundar o especial chamado que o Senhor dirige a cada um de nós. Ele, como fez com Samuel, nos chama por nosso nome e nos pede que honremos o fato de que fomos criados como seres únicos e irrrepetíveis, diferentes uns dos outros e com uma missão singular na história do mundo. No Evangelho (Jo 1,35-42) os dois discípulos de João Batista perguntaram a Jesus: ‘Onde moras?’, sugerindo que da resposta a esta pergunta dependerá seu juízo sobre o mestre de Nazaré. A resposta de Jesus é clara: “Vinde e vede”, e abre um encontro pessoal, que encerra um tempo adequado para acolher, conhecer e reconhecer o outro” (Papa Francisco: Jornada Mundial do Migrante - 14/01/18)
Em Jesus Cristo, Deus nos salva e, sempre respeitando nossa condição de homens e mulheres livres, nos convida a participar de sua obra. Nesse chamado, cada um tem uma missão. O que está em jogo é a “messe do Senhor” e para realizá-la Deus nos cumula de qualidades e capacidades fazendo-nos co-criadores, colaboradores com Ele. Esse chamado afeta todo o nosso ser.
As pessoas trazem sonhos de rara beleza: convivialidade, superação da dor e da solidão, sonhos de fraternidade... Esta é a causa que deve encantar e seduzir todo seguidor de Jesus. É preciso sonhar alto, ser corajoso para poder “escutar” o apelo de Cristo; é preciso forte dose de ousadia e de entusiasmo para transcender-se, e ir além de si mesmo... Devemos mobilizar todas as nossas energias, criatividade, sonhos, desejos, e aspirações para o Reino.
O discípulo é enviado para as periferias existenciais. A posição do discípulo-missionário não é a de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias.
O que significam “fronteiras geográficas e existenciais”? É sair dos limites conhecidos para adentrar no terreno do incerto; sair dos espaços seguros para arriscar-se no novo... A periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do Espírito. Redescobrir o encontrocomo valor ético e como hábito permanente de vida. Somos chamados a viver o encontro como um estilo de vida.
Viver como Jesus significa encontrar-se com “o mundo do sofrimento, da injustiça, da fome... e não ficar indiferente”. Encontro que nasce da compaixão e leva a reconhecer no outro sua dignidade. A paixão pelo Reino nos mobiliza a ir aos lugares do mundo onde há mais necessidade. O discípulo missionário é movido por uma radical paixão, e desce ao coração da realidade em que se encontra; o mundo já não é percebido como ameaça, mas como dom pelo qual Deus mesmo se faz encontrar.
Seguir Jesus exige colocar-se a caminho em direção às margens. Não vivemos o chamado do “Rei Eterno” a partir de uma cômoda instalação pessoal. Disponibilidade e mobilidade são exigências básicas.
Corremos o risco de viver em mundos-bolha. Não é fácil romper e sair do terreno conhecido, deixar o convencional. Tudo parece conspirar para que nos mantenhamos dentro dos limites politicamente corretos. Todos podemos estabelecer fronteiras vitais e sociais impermeáveis ao diferente. Se isso acontecer, acabaremos tendo perspectivas pequenas, visões atrofiadas e horizontes limitados.
Encontrar outras pessoas, outras situações, outros relatos... Olhar desde um horizonte mais amplo, ajuda a relativizar nossos próprios absolutos e deixar-nos impactar pelos valores presentes no outro. O encontro com o diferente possibilita o encontro consigo mesmo. Somos apaixonados por Deus, e também pelo mundo.
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