06. PERDOAR OU CONSTRUIR ENCONTROS MAIS HUMANOS...

“A Igreja latino-americana deve trabalhar sem cansar-se para construir pontes, derrubar muros, integrar a diversidade, promover a cultura do encontro e do diálogo, educar para o perdão, a reconciliação, o sentido de justiça, a rejeição da violência e a coragem da paz”. (Papa Francisco aos Bispos do Celam – Colombia)


 

No evangelho de Mateus encontramos o “discurso comunitário” (Mt 18), que revela um modo original de viver e proceder baseado no modo de viver e agir de Jesus. Ele prepara e acompanha seus amigos e amigas para a vida de comunidade e para a missão, e dedica à formação da nova comunidade as suas forças e ensinamentos mais claros. O fundamental é “estar com Ele”: convivência, intimidade, partilha de vida e de sonhos...

 

Nenhuma comunidade de seus seguidores sobreviverá se imperar um estilo de vida individualista e competitivo, incapaz de acolher as limitações e fragilidades de cada um(a). Daí seu constante convite a provocar encontros que ajudem a integrar, a reunir e articular o tecido comunitário. Há tantas vidas isoladas e rejeitadas que esperam por um bom pastor.

 

Na verdade, Ele provocou as pessoas a saírem de seu isolamento e padrões alienados de relacionamento para expandir-se em direção a uma nova forma relacional com tudo o que existe; tal relação é a realização do sonho do “Reino de Deus”.

 

A vida em comunidade (familiar ou religiosa) é um dom de Deus, que nem todos suportam. O fundamento é o Amor Trinitário, comunhão de Pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo). Como criaturas, fomos atingidos pela marca trinitária de Deus.

 

Como homem e como mulher, trazemos esta força interior que nos faz “sair de nós mesmos”, para viver o estimulante encontro com o outro, e fortalecer a comunhão, a comunidade.

 

O termo comunidade faz referência a algo “comum”. A palavra “comum” vem do latim, “communis”, “com/cum” e “munis” que significa: disposto e pronto para o serviço. 

 

Estar juntos, unidos nessa partilha do melhor de nós mesmos, da maturidade e do crescimento, da autoridade e da identidade pessoal é ser “comunitário”. Lembro de um leigo comentando o modo de ser de um religioso: Ele só partilha o pior de si mesmo!

 

No “discurso comunitário” de Jesus, encanta-nos e causa impacto sua fina pedagogia, sua sensibilidade em salvar a dignidade da pessoa que errou, e não delatá-la publicamente. Jesus rejeita sempre o pecado, mas empenha-se por salvar sempre a dignidade de todo ser humano.

 

O evangelho indica todo um processo de encontro reconstrutor com aquele que falha e cai no erro: a atitude básica é acreditar que “o outro” busca claramente o bem, e, se existe o erro, é por engano ou fraqueza, suposta sua absoluta boa vontade. 

 

Tal atitude desmascara o preconceito e esvazia a predisposição de julgar e de condenar sem conhecer e sem dar ao outro uma nova possibilidade. Por isso, o preconceito e a consciência julgadora são incompatíveis com o bom senso evangélico, e o espírito de discernimento. 

 

O discípulo de Jesus vive segundo o bom senso de seu Mestre e Senhor, vencendo os impulsos da consciência julgadora e ativando a atitude de ouvir, compreender e amar o outro na sua fragilidade. Todos somos “santos e pecadores”, e somos chamados a ser presença do perdão de Deus.

 

O perdão nasce de um coração “educado” pela Misericórdia divina. O perdão é força poderosa que não se rende diante do mal, pois tenta salvar a intenção do outro, e de ativar novamente a esperança.

 

perdão é mais um estilo de vida que um ato ligado a uma transgressão. É um modo de pôr-se diante do outro e de sua fraqueza, mas que não se realiza exclusivamente depois da queda; antes, pode, às vezes, impedir essa queda porque é um estilo de bondade, compreensão, magnanimidade, estilo de quem não presta atenção ao que o outro merece nem se escandaliza com sua miséria. "Devemos perdoar como pecadores, não como justos”.

 

A pessoa misericordiosa salva e redime só enquanto ama: quer o bem do outro e se entristece com seu mal, sente o dever de fazer alguma coisa por ele. Trata-se da motivação mais nobre e verdadeira de sentir-se responsável pelo outro.

Seu perdão é fundamentalmente uma mensagem de estima e confiança no outro, crer na sua amabilidade. Quem perdoa está convencido de que o irmão ou irmã é melhor que aquilo que aparentava. O perdão é aquela energia escondida nas palavras de Jesus: Vai e não peques mais.

 

Perdoar é ter esperança no ofensor, acreditar em sua humanidade, oculta sob a sua fragilidade. O ser humano é muito mais que um ato. É preciso enxergar sempre no outro a sua verdadeira identidade de filho de Deus e irmão nosso.

 


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