O tempo já se completou... (Mc 1,15)
Tem-se dito muitas coisas sobre o tempo: “O tempo tudo cura!...”, “temos todo o tempo do mundo!...”, “é preciso fazer as coisas a tempo...”, “há um tempo para cada coisa...”, “não podemos apressar o tempo...”, “o tempo passado foi melhor...”
Quando falamos do tempo, não estamos nos referindo ao tempo cronometrado (“chronos”). O tempo importante é o tempo psicológico, interior e significativo.
A mentalidade judaica considerava que a natureza do tempo presente era determinada pelos atos de salvação de Deus no passado (Êxodo), no presente e no futuro. O tempo é “carregado” da presença de Deus, que continuamente trabalha, realizando a salvação. É o “Kairós”, tempo de salvação.
Com Jesus chega um “novo tempo”, um tempo decisivo para a história da humanidade. Deus irrompe de maneira definitiva na temporalidade. A partir desse momento, a história fica dividida em dois tempos: o anterior e o posterior ao nascimento de Jesus. Todos os acontecimentos do mundo, passados ou futuros, encontram sua localização e sentido a partir do “tempo central”, o tempo de Jesus.
O tempo de Jesus é kairós, tempo de salvação. É a plenificação de todos os tempos.
Todos carregamos uma certa visão pessimista que desvaloriza o tempo: vemo-lo como efêmero, passageiro, finito, caduco e, inclusive, como ilusório. O “tempo novo” de Jesus, é original em cada um de seus momentos, e em nenhum caso torna-se banal. O Pai se mostra propício na temporalidade, e por isso a atitude de Jesus é a de descobrir em cada um dos momentos e dos acontecimentos o dom de seu Pai.
A liturgia cristã nos diz que estamos no “tempo” pleno, no “kairós”. Seremos cada ano mais jovens se formos cada dia mais livres. Nosso verdadeiro ser é constituído do divino que há em nós, e isso é eterno. Não precisamos esperar nada, pois já somos a plenitude e estamos na eternidade. Estamos mergulhados no “hoje eterno” de Deus e isso ilumina e dá sentido a cada gesto, cada ação, cada encontro.
Kairós: eis que irrompe a eternidade – eterna idade. Nesse sentido, a própria eternidade é sentida como o fluir de um presente sem fim, dom para ser vivido a cada instante.
A espiritualidade cristã, marcada pelo “tempo” de Deus, pode nos ajudar a fazer a “passagem” do “tempo insensato” (sem sentido) ao “tempo sensato” (com sentido). Jesus irrompe em nossa história e nos coloca diante de uma decisão inadiável e única que marca de maneira definitiva nossa existência: “convertei-vos e crede no Evangelho!”
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