“Quem se apega à sua vida, perde-a” (Jo 12,25)
Estamos chegando ao final do tempo quaresmal. Percorremos este caminho de jejum, esmola e oração, centrados na pessoa de Jesus, para reinventar a nossa vida.
“Inventar”, vem da expressão latina “inventio-onis” que significa “encontrar algo” que até então não se havia descoberto.
Por detrás da pandemia, está sendo oferecida a todos uma “mudança de rumo na humanidade”. Estamos sendo forçados a quebrar o ritmo estressante e apressado que levávamos; nosso planeta respira, nossas cidades estão se purificando da contaminação infligida e acumulada. Encontramos formas novas de trabalho e de educação escolar; ficamos mais sóbrios, contentando-nos com o necessário...
O apelo de Jesus, no evangelho deste domingo, é para “perder” nossa vida, no sentido de não nos apegar por demais a ela, e abrir-nos para receber uma Vida maior, a Vida de Deus em nós. Precisamos destravar e abandonar nossas medidas de segurança, para que possa transparecer o que realmente somos. O descentrar-se em favor dos outros é uma necessidade vital.
Quem “se apega à sua vida” e não quer ter compromissos nem se envolver com as situações existentes, esse “perderá sua vida”. Vida atrofiada é aquela que se vive acomodado, tranquilo, instalado politica, econômica e socialmente; mas quem por amor ao Reino se desinstala, se solidariza com o sofrimento e faz sua a dor do outro, esse “ganhará” a vida. Melhoram o mundo todos os que fazem de suas vidas uma doação.
É gratificante fazer memória de tantos homens e mulheres e consumiram suas vidas em favor dos outros, e silenciosamente ajudaram os outros a viver; foram fermento silencioso dissolvido para a massa crescer.
“Se o grão de trigo não morre”, se o ser humano não faz de sua vida um dom para os outros, acaba perdendo-se a si mesmo. Esta é a mensagem radical deste quinto domingo da quaresma: dar vida a todos. Na medida que o nosso ego aumenta, ele se distancia da vida dos outros e só se ocupa em conservar a sua. “Aquele que se apega à sua vida, perde-a”.
É um fato central de nossa existência que a própria vida, por mais valiosa que seja, não se encontra sob nosso controle. Precisamos nos soltar, e deixar de apegar-nos a nós mesmos, para que Deus possa entrar e atuar livremente em nosso interior.
Jesus recorre a uma brevíssima parábola, para fundamentar isso. Só o grão de trigo que morre dá muito fruto; o amor oblativo que se entrega a si mesmo, gera a vida.
O ser humano se caracteriza por ser capaz de amar, por ser capaz de sair de si mesmo e entregar sua vida ou entregar-se a si mesmo por amor. A humanização é esse “descentramento” de si mesmo e centramento nos demais por no amor. “Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei; não há maior prova de amor que dar a vida” .
Jesus é a expressão máxima da humanidade que busca e deixa emergir o melhor que há em seu interior. A vida é constantemente chamada a ser Páscoa, pois a vida entregue é vida ganha.
A vida, desde o mais íntimo da pessoa humana, deseja ser despertada e vivenciada em plenitude. A certeza de nossa fé em Cristo morto e ressuscitado nos ajuda a ir tirando do coração os medos, os impulsos egoístas de busca de segurança e imortalidade, e ir encontrando uma paz profunda que nos permita fazer de nossa vida uma oferenda gratuita para a vida de outros.
Reformar a vida é colocá-la a serviço.
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