Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem... (Jo 10,14)
Todo 4º DTP a liturgia busca inspiração na alegoria do Bom Pastor; ela não apresenta outros relatos de “aparições” do Ressuscitado, mas realça o que é central na experiência pascal: “viver como ressuscitados” é deixar-nos inspirar por Aquele que é Vida em plenitude.
É compreensível que imagens de uma cultura agrária não sejam significativas para quem vive nos espaços urbanos e numa sociedade tecnologicamente avançada; para muitos, a imagem do Bom Pastor deixou de ser significativa. Alguns afirmam que não tem “vocação de ovelhas”, mas se comportam como “gado” no curral da alienação. As redes sociais estão aí para demonstrar as atitudes insanas do “rebanho” que se transforma em “massa de manobra”, onde é proibido “pensar, sentir e amar” de maneira diferente.
Apesar do dito, a imagem do “Bom Pastor” pode ser inspiradora se ela nos conduz ao centro davida. Guia, cuidado e proteção conectam profundamente com as necessidades básicas do ser humano. Esta devoção produziu frutos abundantes de confiança e compromisso.
Jesus se apresenta como o verdadeiro Pastor porque não nos considera propriedade sua, respeita-nos, e ativa nossa autonomia... Jesus, verdadeiro pastor, é pura transparência do Pai. Seu “rebanho” é constituído de diversidades que se enriquecem e se comprometem com a causa da vida.
O encontro com o Bom Pastor ativa em nós o “pastor escondido”, pois todos queremos ser pastores inspirados no Bom Pastor imagem do Deus ternura e cuidado.
Recuperar a imagem esquecida do “Deus de ternura”, supõe enraizar-se no coração do Bom Pastor, imagem que revela a capacidade do ser humano de abraçar amorosamente a situação de fragilidade e dor do outro, com uma compaixão que se faz vida, nos gestos revitalizadores e humanizadores de nossa vida.
Só quem experimentou a ternura de Deus, sabe-se possuidor de uma “segunda pele” que certamente o faz mais humano e apto para adentrar na intimidade humana.
O grau de sensibilidade diante do sofrimento humano indica o grau de humanidade que temos. O cuidado dos outros nos torna pessoas sensíveis, solidárias, cordiais e conectadas com tudo e com todos. Sem o cuidado definhamos e morremos.
A arte do cuidado confere a cada um de nós a capacidade de exercer o “pastoreio espiritual”; cuidar é sentir o outro, escutá-lo e acolhê-lo. Cuidar é dar atenção com ternura, isto é, descentrar-nos de nós mesmos e sair em direção do outro, participando de sua existência. É dizer com palavras e gestos: você é importante para mim!
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