Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim... (Mc 7,6)
O evangelho deste domingo seleciona alguns versículos do cap. 7 de Marcos, carta magna da liberdade cristã. Que todos tenham direito à alimentação e se amem, com todo o coração. Trata-se, pois, de educar e sanar o coração, através de mais liberdade e amor.
O relato de hoje nos situa no centro da dinâmica cristã. Para muitos, sua relação com Deus se reduz ao cumprimento de algumas práticas religiosas, mas o ensinamento é diferente, ele liberta de muitas obrigações e orienta ao culto verdadeiro.
Marcos ressalta que os fariseus e alguns mestres da lei “se reuniram em torno de Jesus”. Não são pessoas interessadas em conhecê-lo. Vieram de Jerusalém, centro do poder religioso, para investigar a conduta do Mestre de Nazaré. Querem criar ao redor de Jesus um cerco de suspeitas e rejeição.
Agora, escribas e fariseus encontram outra transgressão da lei nos discípulos de Jesus: eles comem sem lavar as mãos. Convivendo com Jesus, eles tinham assimilado sua liberdade. Na multiplicação dos pães (relato anterior), Jesus ofereceu pão para a vida de todos, sem exigir purificações prévias, porque a pureza e a cura vêm d’Ele. Há alimentos `puros´, que todos podem comer, e outros `impuros´, proibidos pela tradição. Assim ensinaram os antepassados e assim manda a lei.
A reação de Jesus é muito dura, e põe em evidência que a relação com Deus não passa através do uso de alimentos puros ou ritos de purificação. Escribas e fariseus são a encarnação dos destinatários da denúncia profética de Isaías: “este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. E aqui nos deparamos com pessoas que são fielmente observantes das leis e ritos religiosos, mas, ao mesmo tempo, são profundamente desumanas na relação com os outros.
É visível que Jesus não teve enfrentamentos nem com os romanos, nem com os pecadores, os samaritanos, os estrangeiros... Os conflitos de Jesus surgiram com os mais fiéis cumpridores da religião: sacerdotes, mestres da lei e fariseus.
Jesus não rejeitou o culto religioso. Jesus deslocou o centro da religião e esse centro não está mais no templo nem nas suas cerimônias, nem no sagrado nem em seus rituais. O centro da experiência está em fazer o que fez o mesmo Deus, que sempre “desce” e se aproxima de todos os seus filhos e filhas. Deus está presente em cada ser humano, seja quem for, pense como pense, viva como viva.
No embate com Jesus, eles não fazem nenhuma referência ao anterior evento da “multiplicação dos pães”, e nada dizem sobre a refeição de Jesus com a multidão. Fogem do essencial e permanecem no secundário. O que vem em primeiro lugar, os ritos religiosos ou o compromisso com a vida dos mais vulneráveis e excluídos?
“Escutai todos e compreendei”. Todas as coisas são puras. A impureza sai só de dentro, do coração do ser humano. O coração humano é capaz do melhor e do pior. São os chamados “pecados de raiz”, ou seja, endurecimentos, fechamentos e fixações... que impedem a energia vital, a misericórdia de Deus, fluir livremente.
Quando falamos de “pecados de raiz” queremos destacar a necessidade de uma conversão radical.
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