O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor... (Lc 1,49)
A festa da “assunção” de Maria é a recordação da vida e do testemunho de Maria, Mãe de Jesus, transmitida pela comunidade judeu-cristã do início.
Lucas nos apresenta Maria com atitudes e valores diferentes daqueles que tinham suas vizinhas. Com Maria, o horizonte da mulher que segue a Jesus Cristo se estende até onde a missão pode levá-la. Maria rompe seus espaços estreitos, seu ambiente cotidiano e entra no dinamismo do Espírito, deslocando-se para o serviço gratuito.
Ao encontrar-se com Isabel, irrompe em um hino de louvor, Magnificat, pois a experiência envolvente da grandeza de Deus, instiga-a a exaltá-Lo. É um canto que brota de maneira espontânea e se centra na face salvadora de Deus. Um Deus que fez grandes coisas na história do povo de Israel e na vida da própria Maria. Por isso, as gerações futuras a considerarão bendita.
No Magnificat, Maria canta e faz memória de sua própria história e a de seu povo, à luz da santidade e da misericórdia divinas; no “hoje eterno de Deus” tudo é ressignificado.
Aprendemos com Maria a “ler” a história de uma maneira diferente e instigante. A partir da “memória bíblica”, somos convidados a “reler” nossa história, pessoal e coletiva, com novos olhos, reconstruindo-a, e deixando-nos proclamar as maravilhas de Deus.
A vida só tem sentido quando se torna História, isto é, quando não se limita a repetir o passado, mas quando engendra algo novo e diferente a partir do internalizado e saboreado. É no nível mais profundo que o ser humano transforma seu “tempo” em história e seu “espaço” em encontro.
Somos “seres históricos” e carregamos, muitas vezes, uma história pesada, permeada de vitórias e derrotas, que por vezes nos paralisa e trava o fluir da vida. Nosso passado carrega fatos e vivências negativas (crises, fracassos, rejeições, erros, pecados...), e nossos desencontros costumam deixar feridas. Tudo isso continua influenciando negativamente no presente. Ao nos fixar no passado, alimentamos uma “memória mórbida, doentia, ferida” depósito de rancores que embotam a vida, e não nos abrindo ao futuro.
Se a memória não é “evangelizada”, ela continua remoendo aquilo que aconteceu, num desgaste muito grande de energia. Não há mudança e conversão se não houver mudança e conversão da memória.
Somente pela “memória redentora”, a pessoa é capaz de se colocar diante do passado, de modo livre e aberta, dando-lhe um novo significado. A memória sadia não muda o passado, mas “re-corda” (visita de novo com o coração) de modo novo e inspirador. A memória resgata referências, cura feridas e reconcilia-se com a vida, com as próprias riquezas e fraquezas, com o próprio passado. A memória sadia é capaz de tirar proveito de todas as vivências pessoais (nada é descartado, tudo é integrado), e lê-la como História de Salvação.
É pela memória sadia que somos capazes de descobrir a presença Deus na nossa história, tornando-a história da salvação, e não de condenação.
Nossa história pessoal se converte em “Epifania” (manifestação) de Deus e permite compreender-nos e aceitar-nos.
A história se revela, assim, como um `húmus´ vivente, atmosfera de graça, torrente subterrânea na qual se nutre todo o processo da vida de cada um. Cantar o Magnificat nos possibilita viver o “mistério” da presença e a ação do “Deus na história”.
Em Jesus, nossa pobre história se transforma sempre em história de salvação.
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