Quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á... (Mc 8,35)
O relato deste domingo ocupa um lugar central e decisivo no evangelho de Marcos. Jesus sempre teve uma presença original e instigante no contexto social e religioso de seu tempo; seu agir provocava diferentes reações e ninguém ficava “indiferente” diante do seu modo de ser.
D’Ele se diziam muitas coisas contraditórias: Está “fora de si” (Mc 3, 21); “está endemoninhado” (Mc 3 ,22); é um “comilão e beberrão” (Lc 7, 34); “amigo dos pecadores” (Mt 11, 19), blasfemo (Mc 2, 7); impostor (Mt 27, 62)... Qualquer um desses insultos dirigidos a nós provavelmente suscitaria uma reação perigosa...
Um dia, longe do ambiente pesado de Jerusalém, na bucólica Cesaréia de Filipe, Jesus fez aos discípulos perguntas decisivas e inesperadas.
Que dizem de mim seus vizinhos? E vós quem dizeis que eu sou?... Pergunta decisiva e que exigia uma tomada de posição; a resposta a ser dada devia iluminar toda sua vida e caminhada.
Os discípulos viviam interrogando-se sobre a identidade de Jesus. Quem é este homem tão diferente e tão original?
Jesus era livre e essa liberdade nos fascina ainda até hoje. Num mundo fechado, dividido e polarizado, ele tomava partido pelo pobre e desvalido... No mundo da dor? Ele consolava e humanizava. Nunca vimos coisa semelhante!
Jesus vivia a partir de um sonho primordial: o Reino. A riqueza original desse sonho primordial não se “encaixava” nos esquemas dos fariseus ou saduceus, essênios ou zelotes, nem se deixava instrumentalizar pela instituição do Templo ou sinagoga.
Jesus quer verificar a real motivação dos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” É fundamental que aqueles que se comprometeram com sua causa, reconheçam o “mistério” que se revela na vida d’Ele.
O horizonte de todo ser humano é a vida em plenitude. Para caminhar na direção da vida é necessário “desapegar-se” do ego. “Renunciar a si mesmo”: não se trata de negar o que somos, mas o que pretendemos ser e não somos. Este esvaziamento não é anulação, mas potenciação.
“Renunciar a si mesmo” é deixar de lado toda ambição pessoal, individualismo e egoísmo. “Carregar a cruz” é prontidão, estar de pé, mobilizado, ser fiel até o fim... É uma cruz salvadora.
Na realidade, o ego não é o meu verdadeiro eu. É uma falsa imagem de mim. É a ilusão de que eu sou um indivíduo separado, independente, isolado e autônomo.
Só na identificação com Jesus vamos afastando as cinzas e reacendendo nosso verdadeiro eu. Podemos parafrasear as palavras de Jesus: “Quem quer salvar seu ego, perde a vida; mas aquele que deixa de se identificar com seu ego, vive em plenitude”.
O modo mais simples de traduzir isso parece ser este:“deixa de viver para teu eu estreito”, “não gira em torno ao teu ego, porque esse modo de vida te aprisionará cada vez mais, e tua vida será vazia e estéril”.
Ir além do ego e descobrir nossa verdadeira identidade, compartilhada, na qual o próprio Jesus se encontrava.
Identificando-nos com Jesus construímos o verdadeiro eu!!!!
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