Festejamos neste domingo uma infinidade de santos e santas anônimos, que não foram oficialmente canonizados, mas cujas vidas deixaram transparecer a santidade de Deus, e viveram as bem-aventuranças proclamadas por Jesus. Estamos continuamente rodeados de muitas pessoas que revelam uma presença aberta e comprometida, carregada de fidelidade e de alegria evangélica.
O que tem eles em comum? Suas vidas apontaram para Deus de maneira clara foram conduzidos pelo Espírito Santo. Por isso, quando os vemos ou encontramos, intuímos que é possível o amor, a misericórdia, a compaixão, a justiça, a bondade, a mansidão, a pureza de coração...
Em que se diferenciam? Em tudo o mais: seguramente há jovens e anciãos, instruídos e analfabetos, mulheres e homens; tímidos e extrovertidos, hiperativos e calmos... Uns vivem o evangelho em contato constante com as pessoas; outros que consagram suas vidas à ciência, ou ao cuidado dos outros... Dançam, rezam, abraçam, choram, amam, se equivocam, acertam..., porque, afinal de contas, são todos humanos. E ser santo é ser humano por excelência.
A santidade não é buscar um perfeccionismo autocentrado, nem cumprir leis ao pé da letra. É uma maneira original de viver o amor no serviço aos outros.
Os santos e as santas de ontem e de hoje confirmam que podemos ser transparência do amor de Deus neste mundo. Certamente, muito perto de nós existe alguém que é janela aberta e que aponta para essa direção. Não há santos de primeira grandeza e outros de segunda, mas uma só santidade que se revela e se expressa na comunhão de todos.
S. Teresa D’Ávila afirmava que a santidade não é um privilégio de poucos, mas uma responsabilidade de todos. Nossa vocação é a santidade da Vida para além de todo sistema religioso ou moral, porque fora da Igreja há salvação ou santidade.
A santidade é, pois, um dom recebido de Deus, que alimenta em nós o desejo e a disposição de “sair de nós mesmos” para viver na relação com o mesmo Deus, com os outros e no cuidado e proteção da Casa Comum.
O evangelho indicado para esta festa nos revela que Jesus mostrou o grande caminho para nos conectar com a santidade de Deus: as bem-aventuranças. Nelas, Jesus proclama que o verdadeiro segredo para uma humanidade totalmente recriada é a força expansiva do amor e da misericórdia, cimentadas no comum denominador da humildade.
Como cristãos, somos seguidores d’Aquele que foi um “expert” na felicidade. Por isso, é chegado o momento de recuperar o evangelho da felicidade, na linha das bem-aventuranças. Jesus anunciou sempre a vida plena dos seus filhos e filhas, oferecendo um caminho de felicidade para todos, começando pelos pobres. É um Deus que ama os pequenos e perdidos, assumindo com e para a humanidade um projeto de felicidade e vida plena.
Nesta festa de “Todos os Santos e Santas”, é inspirador revisitar as bem-aventuranças: elas nos despertam e, inclusive, nos inquietam, porque, se as assumimos como estilo de vida, elas nos desinstalam e nos ajudam a compreender a vida de uma maneira diferente. Com o impacto das bem-aventuranças em nosso coração, deixam de estar na primeira linha a violência, o ódio, o poder, a vaidade, a intolerância, o negacionismo que ficam substituídos pela paz, solidariedade, bondade, humildade, justiça...
Os(as) santos(as), de ontem e de hoje, fizeram das bem-aventuranças o centro e a pauta de seu viver; todos colocaram à frente de suas vidas não o Decálogo escrito em tábuas de pedra, mas as bem-aventuranças, escritas em seus corações. Elas estão presentes no mais profundo de todos os seres humanos; o que Jesus fez ao proclamá-las foi desvelar o que é mais nobre e mais humano em cada pessoa.
Os santos são, de certa forma, especialistas na arte de “transgredir”, de liberar, de abrir os espaços ocupados pelas certezas efêmeras, para dar lugar à vida do Espírito. É um profeta do retorno ao essencial, um espeleólogo das profundezas do ser humano, na busca do que realmente importa.
Sua presença contagia a alegria do Evangelho, pois só ele é capaz de remover os obstáculos que impedem o humor de viver como ressuscitados. A alegria vincula-se ao estado de plenitude humana, à criatividade, ao entusiasmo, ao prazer, ao contentamento, à satisfação, ao regozijo, à felicidade. Bem-aventurados os que sabem rir de si mesmos: nunca cessarão de se divertir.
O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é viver na ‘alegria do Espírito Santo’.
Jesus vivia sereno, feliz, alegre. As bem-aventuranças são o fiel reflexo de sua vida. Seu íntimo trato com o Pai, sua paixão pelo Reino, suas relações pessoais, suas amizades, seu modo de enfrentar a “hora”, sua aceitação da vontade do Pai, sua paixão e morte são vividas em paz.
Diante dos prodígios e milagres que vai realizando em sua vida pública, Jesus exulta de alegria no Espírito Santo. Portanto, o modo de proceder do santo no mundo é imagem fiel do modo de proceder do próprio Jesus.
Hoje lembramos agradecidos todos esses santos anônimos que vivem ao nosso lado!
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