4º DTP: Divino ofício do pastoreio... (Pe. A. Palaoro SJ)


A imagem do Bom Pastor está carregada de simbolismos interessantes, embora não tenha tanto impacto no contexto urbano em que vivemos.

Jesus não foi, nem quis que os seus seguidores fossem “ovelhas e cordeirinhos” submetidos aos controles de seus pastores, nem obrigados a cumprir normas e costumes impostos por aqueles que se dizem responsáveis pelo rebanho. 

 

Rebanho não é anulação das identidades, nem uniformidade no modo de pensar, agir e ser. Cada pessoa é diferente, única, com experiências, expectativas, medos, ansiedades, desejos, fortalezas e fraquezas, com seu ritmo e modo próprios de viver. Somos chamados a formar consciências, mas não pretender substitui-las” (Papa Francisco - Amoris Laetitia).

 

Jesus, no ministério do seu pastoreio, ensina e age com “autoridade”. Ele ativar a autonomia em cada pessoa, com aquilo que é mais divino no seu próprio interior. O “divino pastoreio” traz para fora a verdade da pessoa (sua identidade), ativando suas potencialidades, dons e recursos.

Suas palavras e suas atitudes ativavam a vida; elas despertavam tudo o que estava atrofiado e adormecido no ser humano. Aqueles que escutavam sua voz sentiam que havia algo de vida eterna, que alimentava e dava sentido à própria existência. 

 

Jesus não só transmitia um novo ensinamento, senão que criava uma relação nova com o povo e de uns com outros, segundo o espírito do Reino. Nesse ministério do pastoreio, a palavra de Jesus manifestava-se cordial, terna, calorosa, pois tocava o coração das pessoas; ela se revelava criadora de futuro ao transformar por dentro a pessoa que a acolhia.

 

Jesus mesmo mostrava-se como a “Voz” do Pai que se expressava em palavras de vida e que o movia a se aproximar de todas as pessoas, revelando-lhes a dignidade infinita que cada um carregava dentro de si. 

 

Essa era a mais nobre missão de Jesus como Pastor: ensinar os homens e as mulheres para que fossem eles em liberdade, e descobrissem e ativassem a verdade por dentro, sua verdade fontal, para que todos se guiassem e se ajudassem e, assim, fossem e vivessem em plenitude. 

 

Com sua Voz instigante e mobilizadora, Jesus foi semeando humanidade, despertando o amor criativo, que se fazia vida naqueles(as) que o escutavam e acolhiam sua palavra. Assim, o “divino pastoreio” evoca a verdade do ser humano, comporta uma pro-vocação, uma proposta que o move a potencializar ao máximo seus recursos internos, revelando aquilo que ele é capaz.

 

Deixar-se conduzir pela “Voz do Bom Pastor” significa uma autêntica experiência e que tem efeitos explosivos: é novidade que surpreende, cria novas expectativas, traz mobilização, pede mudança dos costumes e dos velhos estilos de vida, realimenta a liberdade criativa, leva adiante o equilíbrio de cada um em direção a horizontes imprevisíveis, abre uma nova fase de vida...

 

Aos olhos do Pastor da Galiléia nada é mais perigoso para o espírito humano do que vidas satisfeitas, acomodadas, sem desejos, sem o dinamismo das esperas e o desassossego das buscas; corações quietos, Por isso, Sua Voz merece ser “escutada” para que ela tenha ressonância no nosso próprio interior e inspire o nosso modo de ser e viver. Todo seguidor se reveste desse “ministério do pastoreio”.


Tudo começu com a escuta de sua voz. escuta requer uma disposição de abertura inicial, que implica flexibilidade para permitir inclusive que as convicções prévias possam ser removidas. 

 

Quando, aquilo que “escutamos”, encontra eco em nosso interior, reconhecemos estar em contato com nosso eu verdadeiro e em profunda “sintonia” com a pessoa que nos fala. Isto é o que acontecia com os seguidores de Jesus e o que continua acontecendo conosco quando lemos o evangelho: ao perceber que a palavra de Jesus “lê” nosso interior, nós a reconhecemos como própria e “comungamos” com sua pessoa, na unidade de vida que transcende o tempo e o espaço.

 

“Escutar”, do termo latino “auscultare”, implica atenção e concentração para entender e poder ajudar. Escutar as palavras e os gestos, os silêncios, as dores e raivas, os gritos de insegurança e de medo; escutar os tímidos e os sem voz, escutar os gemidos de Deus na dor dos pobres e sofredores; escutar o que se diz e o que se cala e como se diz e por que se cala; escutar também as ações, a vida, que com frequência negam o que se proclama nos discursos. Muitos desfazem com seus pés o que buscam construir com suas palavras. 

 

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