Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora... (Jo16,12)
Neste domingo, celebrammos a Festa da Santíssima Trindade, que nos mobiliza para uma nova maneira de viver e de nos relacionar com o Deus de Jesus.
O Mistério da Trindade não é um enigma a ser decifrado, ou seja, como conjugar três “individualidades” em uma Unidade, mas é a proclamação de que “tudo é Relação”. A Trindade é a maneira de ser de Deus, como Amor que se expande, em si e fora de si. A Trindade não é uma simples verdade para crer, mas a base de nossa experiência cristã.
Foi a experiência cristã da ação salvadora de Deus por meio de Jesus Cristo e no Espírito Santo que deu existência à doutrina trinitária. Deus não é solidão, mas comunhão perfeita; Deus é Amor. O amor não existe se não for reciprocidade, dom, acolhida, relação e comunhão.
Não podemos definir Deus. Só podemos nos aproximar da essência de Deus afirmando que Ele é relação, comunidade, partilha, comunicação, intercâmbio, comunhão....
S. Agostinho afirmou que no Amor se encontram três realidades: o Amante, o Amado e o mesmo Amor. O ser humano é “morada” das Três Pessoas Santíssimas.
Esta é a essência do Evangelho. A Trindade nos ensina que só vivemos quando com-vivemos.
Deus nos fez amor para o mútuo encontro, para a doação, para a comunhão... Fomos criados “à imagem e semelhança” do Deus Trindade, comunhão de Pessoas (Pai-Filho-Espírito Santo). Quanto mais unidos somos, por causa do amor que circula entre nós, mais nos parecemos com o Deus Trindade. “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu Amor em nós é perfeito” (1Jo. 4,12)
Deus colocou em nossos corações impulsos naturais que nos levam em direção ao convívio, à cooperação, à acolhida, à solidariedade... “Só corações solidários adoram um Deus Trinitário”.
O ser humano foi criado à imagem e semelhança do Deus Trindade. E é fácil intuir isso: sempre que sentimos o dinamismo de amar e ser amados, sempre que sabemos acolher e buscamos ser acolhidos, quando compartilhamos uma amizade que nos faz crescer, quando sabemos doar e receber vida..., estamos saboreando e visibilizando o “amor trinitário” de Deus. Esse amor que brota em nós tem n’Ele sua fonte.
O amor intra-trinitário não é um amor excludente, um “amor egoísta” entre três. Quem vive o amor inspirado pela Trindade, aprende a amar a quem não lhe pode corresponder, sabe doar sem esperar recompensa, sente uma grande paixão pelos mais pobres e pequenos, e é capaz de entregar sua vida.
Por outro lado, quem é incapaz de dar e receber amor, quem não sabe compartilhar nem dialogar, quem resiste relacionar-se com os outros, quem só busca seu próprio interesse, não pode experimentar nada da Trindade.
O ser humano não é feito para viver só; ele é chamado a viver em comunhão; como homem e como mulher trazemos esta força interior que nos faz “sair de nós mesmos” e criar laços, construir fraternidade, fortalecer a comunhão. Fomos feitos para o encontro e a comunicação. Necessitamos con-viver, viver-com-os-outros, encontrar-nos; O sentido da vida em comum é um dom de Deus; afinal, fomos criados à imagem do Deus “encontro intra-trinitário”.
O amor é olhar o outro com olhos tão limpos, bondosos, desinteressados, tão profundos que só desejo que o outro seja o que é...
O dogma da Trindade, portanto, não só nos revela como Deus é e como somos nós. A doutrina da Trindade está preocupada com a nossa vida também. Somos convidados pela graça divina a entrar neste fluxo de relação que define o próprio ser de Deus.
O Deus de Jesus não é uma verdade para pensar, mas uma Presença a ser vivida. Não é um ideia para quebrar nossa cabeça, mas a base e fundamento de nossa vida. Uma profunda vivência da mensagem cristã será sempre uma aproximação ao mistério Trinitário.
Será, em definitiva, a busca de um encontro vivo com Deus. Não se trata de demonstrar a existência da luz, mas de abrir os olhos para vê-la.
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