16º DTC: O ativismo trava a mística do encontro... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas... (Lc 10,41

 


No evangelho de Lucaso caminho de Jesus a Jerusalém marca uma progressiva manifestação do Reino. Ele vai despertando e preparando seus seguidores a viver as atitudes indispensáveis de um verdadeiro discípulo: presença compassivaespírito de acolhidaabandono das pretensões de poder, escuta de sua Palavra... Tais atitudes exigem romper com o ritmo estressante da vida para que todos se coloquem, serena e atentamente, aos pés do Mestre. Esta eleição, é uma condição fundamental para chegar a ser um autêntico discípulo.

 

No seu caminho em direção a Jerusalém, o evangelho deste domingo nos revela que Jesus é recebido por duas irmãs, numa casa de família. Os discípulos que acompanham Jesus desaparecem da cena. Lázaro, o irmão de Marta e Maria, também. Na casa da pequena aldeia de Betâniao cotidiano de Marta e Maria se altera por completo.

 

Com o “Senhor” em casa, tudo muda e encontra uma nova “ordem”. Jesus, o peregrino sem casa, está no centro de todas as atenções que uma verdadeira hospitalidade exige. Marta e Maria reagem de maneira diferente no encontro com o Mestre ilustre. Duas atitudes diferentes. Uma, de total atenção e escuta; outra, de ansiedade, pelos afazeres domésticos habituais. Maria, sentada aos pés de Jesu
s, põe-se à escuta das suas palavras; Marta, ao invés, fica totalmente tomada pelas tarefas e preocupações quotidianas...
 Maria encontra paz e serenidade na escuta do Mestre; Marta, ao contrário, agita-se e preocupa-se, para que tudo dê certo.

 

O ritmo da vida cotidiana tornou Marta surda à escuta da Palavra. Ela recebe Jesus, mas não o escuta; Maria, ao contrário, compreende bem o projeto de Jesus e rompe com os preconceitos culturais de sua época. Sua atitude é surpreendente, pois ocupa o lugar próprio de um “discípulo”sentada aos pés do Senhor escutava sua palavra”. De fato, Maria fez a melhor opção: decidiu aprender a escutar a Palavra e se deixa interpelar pela presença do Mestre.

 

Marta, ao fadigar-se com o interminável trabalho da casa, questiona a contraditória atitude de Maria e interpela o Mestre para que sua irmã, como mulher, se “coloque no seu devido lugar”. No fundo, o que ela pede a Jesus é que mande sua irmã voltar às tarefas próprias de toda mulher e deixe de ocupar o lugar reservado aos discípulos varões.

 

Jesus não critica Marta por sua atitude de serviço, mas a convida a não se deixar absorver por seu trabalho. E nos recorda que a escuta de sua Palavra deve ser prioritária para todos

 

Tem sido frequente ler este texto em chave dualista, reforçando a superioridade da “vida contemplativa” sobre a “vida ativa”. No entanto, o sentido original do texto está no fato de afirmar a primazia do discipulado acima de qualquer outra atividade.

 

Podemos pensar que Marta e Maria, mais que duas pessoas, são duas atitudes, duas tendências que todos temos e somos na vida. Muitas vezes vivemos num ativismo desenfreado e acabamos perdendo o fluxo de uma vida mais harmoniosa, integrada e pacificada. 

 

Com Marta e Maria, Jesus nos interpela e nos chama a investir no essencial: colocar-nos a seus pés para escutar sua palavra.

 

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