27 DTC: A Fé se transforma em serviço...

  




Quando tiverdes feito tudo o que vos ordenarem, dizei: somos simples servos, só fizemos o que devíamos fazer...(Lc 17, 10)

 

Continuamos o percurso contemplativo, seguindo e aprendendo com Jesus. No evangelho deste domingo Lucas recolhe afirmações do Mestre da Galileia. Nos relatos anteriores, Ele nos pedia para que não colocar a confiança nas riquezas, no poder, no luxo; e hoje nos diz claramente: “não coloques tua confiança em tuas ‘boas obras’”. Confia somente em Deus

 

Confiar somente em Deus e não nas nossas obras. Aqueles que passam a vida acumulando méritos não confiam em Deus, mas em si mesmos. A salvação por “pontos conquistados” é totalmente contrária ao evangelho. Esta era a atitude dos fariseus que Jesus criticou.

 

Também hoje é comum a atitude daqueles que não se identificam com Jesus e se limitam a cumprir alguns ritos, observar algumas normas e penitências, realizar algumas “obras interesseiras”. Suas vidas não deixam transparecer a “fé em Jesus”. A vivência da fé cristã consiste primordialmente na identificação com Aquele que nos atrai e nos chama: Vem se segue-me!

 

No relato deste domingo, os apóstolos se dão conta de que lhes falta algo para poder compreender as exigências d’Ele. Por isso, suplicam: “aumenta nossa fé”. A  não é questão de quantidade, mas de autenticidade. Além disso, a fé não pode ser aumentada a partir de fora; ela precisa crescer a partir de dentro, como o grão de mostarda.

 

fé não se resume a uma adesão a uma série de verdades teóricas, mas é uma atitude pessoal fundamental e total que imprime uma direção definitiva à existência. Na Bíblia, a fé é equivalente à confiança em uma pessoa, acompanhada da fidelidade. A fé é uma vivência em Deus; por isso não tem nada a ver com a quantidade.

 

Jesus denuncia a  dos seus discípulos, que parece frágil, incapaz de manifestar aquela força que muda a vida, o modo de pensar, de sentir e de agir. A fé supõe o des-centramento de si mesmo e o reconhecimento de Deus como centro da própria vida, numa atitude de confiança incondicional. Crer significa deixar Deus ser totalmente Deus, e reconhecê-lo como a única razão e sentido da vida. A fé é experiência expansiva da própria vida, movida pela graça de Deus. Aquele que tem confiança em Deus, poderá desatar toda essa energia de vida. Fé que se visibiliza no serviço por pura gratuidade; ou, segundo S. Paulo, a fé que se realiza pela prática do amor” (Gl 5, 6). 

 

E Jesus ilustra isso com a pequena parábola do “simples servo”. Parábola dirigida àqueles que confiam em suas obras e exigem uma recompensa de Deus. Daí o perigo da soberba religiosa. No Reino de Deus, todos somos servidores; nele não se trabalha por recompensa. Já é um privilégio podermos colaborar na obra o Senhor. O trabalho a serviço do Senhor já é uma graça e a recompensa não pode ser exigida; ela é dom. 

 

Atitude da inteira disponibilidade, intensidade do compromisso, sem queixas, sem comparações e nem exigências. Uma ética e uma espiritualidade assim revelam um profundo e inexplicável humanismo.

 

Jesus desencadeou um movimento profético em favor da vida, mobilizando seguidores com a missão de anunciar e promover o projeto do Reino de Deus. Nesta perspectiva, o critério primeiro e a chave decisiva para entender e viver a fé cristã é seguir Jesus CristoO seguimento constitui o núcleo, o eixo e a força que permite a uma comunidade cristã expandir sua fé em Jesus Cristo.

 

Por isso, mais que ter fé em Jesus, o decisivo é “viver a fé de Jesus”; e a fé de Jesus está intimamente vinculada à justiça do Reino, ou seja, comprometida com a vida.

 

Para Jesus, a fé não está vinculada a um catálogo de crenças, a uma doutrina, a uma religião, e sim, a um modo de viver e agir, profundamente sintonizado com o modo de ser e agir do Pai.

 

Deixando-nos afetar e seduzir pela identificação com Jesus, vamos nos revestindo das grandes atitudes e compromissos que Ele viveu na sua missão, sobretudo na relação com os mais pobres e excluídos, alimentando neles a esperança de um mundo novo, o Reinado do Pai. É isso que, como seguidores, temos de interiorizar e viver sempre.

 

 

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