O primeiro dia da semana é o dia da ressurreição do Senhor, mas é também aquele em que o Ressuscitado se faz presente em meio aos seus: é o dia do Senhor, o dia da intervenção decisiva de Deus, que, ressuscitando Jesus, venceu a morte. “O primeiro dia da semana” foi escolhido pelos cristãos para estarem “no mesmo lugar” (At 1,15; 2,1.44.47 etc.) como assembleia de irmãos e irmãs que experimentam a vinda do Ressuscitado no meio deles.
O desconforto reina nos corações dos discípulos, que não acreditaram nem na Madalena nem no discípulo amado. Mas Jesus tinha prometido: “Depois da minha morte, ‘mais um pouco e vocês me verão’” (Jo 16,16) e, fiel à palavra dada, ele “vem e está no meio”. Jesus é visto pelos discípulos no meio deles, como aquele que cria e dá unidade, que “atrai todos a si”.
O Ressuscitado diz: “Paz a vocês!”, saudação messiânica, palavra eficaz que traz vida plena e expulsa o medo; mostra-lhes as mãos e o lado, sinais de sua paixão e morte.
Jesus está presente com um corpo glorioso (Fl 3,21), um “corpo espiritual”, no qual, porém, permanecem os sinais do fato de ter sofrido a morte por amor. São sinais de paixão e, ao mesmo tempo, de glória, sinais do amor vivido “até ao extremo”.
“E os discípulos se alegraram por verem o Senhor.” Ocorre aquilo que Jesus havia profetizado: “Agora, vocês também estão angustiados. Mas, quando tornarem a me ver, vocês ficarão alegres, e ninguém poderá tirar essa alegria de vocês” (Jo 16,22). Nessa nova situação da comunidade, o Ressuscitado, que havia prometido não a deixará órfã (cf. Jo 14,18) e dar-lhe outro Consolador (Jo 14,16). Ele repete a saudação “Paz a vocês!” e anuncia: “Como o Pai me enviou, também eu envio vocês”.
O discípulos acolheram o Enviado de Deus, seguiram-no e creram nele; agora, são enviados por todo o mundo para serem como ele, Jesus, foi em toda a sua vida: testemunhas da verdade, da fidelidade de Deus, isto é, de seu amor pela humanidade. Com sua vida, devem mostrar que “Deus amou tanto o mundo a ponto de lhe dar seu único Filho” (Jo 3,16).
Mas isso tem uma repercussão decisiva na vida dos cristãos: significa remissão dos pecados, porque a experiência da salvação que podemos fazer na terra é justamente a remissão dos pecados. Receber o Espírito Santo é receber tal remissão, isto é, viver a ação do Senhor que não só perdoa, mas também se esquece dos nossos pecados, fazendo de nós criaturas novas.
Essa é a epifania da misericórdia de Deus, do amor de Deus profundo e infinito, que, quando nos alcança, nos liberta das culpas e nos recria em uma novidade que nós não podemos nos dar!
Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), batizando os discípulos no Espírito Santo (cf. Jo 1,33), habilita-os à sua missão: perdoar, reconciliar com Deus e com os irmãos e as irmãs. Pela cruz e pela ressurreição, a humanidade foi reconciliada com Deus, mas tal evento deve ser anunciado a todos, e os discípulos são enviados para isso.
“Como o Pai me enviou, também eu envio vocês”, em que esse “como” refere-se a um estilo: “Como eu perdoei os pecados, vocês também devem perdoá-los; é com essa tarefa que eu envio vocês”.
Feita essa experiência, os discípulos anunciam a Tomé, que não esteve presente na primeira manifestação do Ressuscitado: “Vimos o Senhor!”. É o anúncio pascal que deveria ser suficiente para acolher a fé no Ressuscitado. Mas Tomé não acredita, aquelas palavras parecem-lhe devaneios nada confiáveis.
“Oito dias depois”, portanto, no primeiro dia da segunda semana depois do túmulo vazio, eis Tomé e os outros juntos novamente. É o primeiro, mas também o oitavo dia, dia da plenitude, mas os discípulos ainda têm medo dos assassinos de Jesus. Eles deveriam levar o anúncio pascal a toda a Jerusalém, mas, em vez disso, permanecem fechados, dominados pelo medo. Mas Jesus se faz presente de novo: “A portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: ‘Paz a vocês!”.
Jesus, porém, vem também para Tomé e também a ele se mostra com os sinais de seu amor: os estigmas de sua paixão impressas para sempre em sua carne gloriosa. Jesus, portanto, convida Tomé a se aproximar e a pôr o dedo naqueles estigmas.
E aqui, atenção, não está escrito que Tomé pôr seu dedo, mas disse: “Meu Senhor e meu Deus!”. Reconhecendo nos estigmas o amor vivido por Jesus, Tomé faz a confissão de fé mais alta e plena em todos os Evangelhos: Jesus é o Senhor, Jesus é Deus.
É por isso que quem vê Jesus vê o Pai (cf. Jo 14,9); é por isso que Jesus é a exegese de Deus que ninguém jamais viu nem pode ver (cf. Jo 1,18); é por isso que Jesus é “o Vivente” (Lc 24,5) para sempre.
Tomé certamente não é um modelo, embora possamos nos reconhecer nele. Por isso, Jesus lhe diz: “Bem-aventurados os que chegam a crer sem terem visto”. É conhecendo o amor vivido pelo Crucificado que se começa a crer: milagres e aparições não nos fazem ter acesso à verdadeira fé. Só a palavra de Deus contida nas Santas Escrituras, só o amor de Jesus do qual o Evangelho é anúncio e narração, só o fato de ficar no espaço da comunidade dos discípulos do Senhor é que podem nos levar à fé, fazendo-nos invocar Jesus como “nosso Senhor e nosso Deus”.
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